segunda-feira, 4 de agosto de 2025

O fim das ideologias ou o desgraçado mundo novo

Do grego “idea” (conceito) conjugado com “lógos” (estudo) à laia de sufixo, a palavra ideologia significa, etimologicamente, o estudo das ideias.

Para tanto ainda chega o meu conhecimento de grego, não estudado, mas adquirido nas leituras duma vida, sobretudo naquelas em que balizei (eu e grande parte da minha geração) as minhas ideias políticas.


Mais do que meras palavras, termos como liberalismo, socialismo, comunismo, fascismo foram, desde o século XIX, correntes de pensamento que moldaram revoluções, criaram e fizeram cair regimes, promoveram movimentos em todo o mundo.

Eram estes “mapas” políticos que organizavam a vida das pessoas e a sociedade com base em ideias claras sobre justiça, liberdade, igualdade, economia ou progresso.

Hoje em dia é como se vivêssemos numa era pós-política, sem grandes projetos, grandes visões de futuro ficando-nos apenas pela gestão do quotidiano e dos ciclos eleitorais, pelos números de votos e pelas promessas vagas. Assistimos a verdadeiros números de contorcionismo em tudo dependentes dum jogo de poder pelo poder, espezinhando valores fundamentais com o único fim de conseguir captar um eleitorado a cada dia menos esclarecido e mais à mercê dos discursos simplistas e vazios.

No entanto e ao contrário do que parece, as ideologias não desapareceram — apenas mudaram de forma. Perderam a estrutura clara dos velhos tempos e dispersaram-se em causas, emoções e identidades. Deixaram de comunicar para o “todo” para se centrarem em nichos de mercado político deixando órfã a maioria.

Uma maioria que, humanamente, tem necessidade de acreditar em algo, de ter respostas, de procurar sentido. E é exatamente aí que começa o problema.

Neste “desgraçado mundo novo”, o vazio deixado pelas antigas ideologias está a ser ocupado por discursos fáceis, emocionais, vazios e perigosamente sedutores. O medo, a frustração, a desilusão o sentimento de abandono que assolou essa maioria, alimentam populismos que prometem proteger, restaurar e até mesmo vingar. Discursos que prometem tudo — menos pensar. Em vez de ideias, temos slogans. Em vez de diálogo, temos gritos. Em vez de pontes, muros.

O que assusta realmente é que muitos, cansados de não serem ouvidos, de não terem uma explicação, de se sentirem esquecidos, aceitam. Aceitam o inimigo como explicação e o ódio como resposta. Dizia alguém num desses livros de ideologia lidos há muito que os monstros nascem, não da força, mas do silêncio.

Este é o retrato de um mundo novo de promessas vazias, discursos agressivos e identidades simplificadas, onde o medo faz mais barulho.

Enquanto as ideologias se fragmentam e os valores se esvaem, o vazio ideológico é tapado por políticas punitivas e radicalizadas.

Abalroam-se valores e princípios, em troca de votos e de vitórias eleitorais. A política já não se faz para as pessoas e muito menos para construir respostas sociais . Neste momento, a politica tem um único objetivo: vencer o adversário!

Não há debates ideológicos, não existem contrapontos políticos. As alianças são feitas apenas e só baseadas na matemática eleitoral.

É caso para dizer “ que se lixem as pessoas”.

Mas ainda há espaço para mudar o rumo. Precisamos de política com coragem: coragem para pensar em coletivo, para propor, para incluir em vez de excluir. A coragem de voltar a acreditar que a política pode ser mais do que ruído — pode ser caminho.

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