Nada disso faz o menor sentido. A armadilha em que se meteram se deve ao indisputado domínio da família Bolsonaro sobre todo o campo conservador. Sem perspectivas concretas de livrar o pai da cadeia, Eduardo Bolsonaro viajou para os Estados Unidos com o projeto de estimular sanções americanas aos ministros do Supremo, na esperança vã de que a ameaça pudesse moderar as sentenças nos julgamentos dos atos antidemocráticos. Só que Trump recebeu a demanda e a dissolveu na sua estratégia de guerra tarifária. Eduardo Bolsonaro, tomado de vaidade e sentindo-se influente sobre a Casa Branca, tomou a medida desproporcional de Trump como se fosse sua, implicando todo o movimento conservador na sua trapalhada.
O que era uma punição direcionada a Moraes e outros ministros virou uma punição a milhares de brasileiros. Os governadores da direita tentaram escapar da armadilha, buscando dizer que a postura antiamericana de Lula teria provocado a medida e que a solução seria a mesa de negociação comercial. Trump, no entanto, deixou claro que seu problema é com o Supremo, que a disputa não é de natureza comercial e que age a pedido dos bolsonaristas nos Estados Unidos.
Trump está tratando o Brasil como trata as universidades americanas. No caso delas, usou seu poder econômico como financiador das pesquisas científicas para lhes arrancar o compromisso de fechar ou enquadrar departamentos de estudos árabes, revisar as políticas de diversidade e perseguir estudantes pró-Palestina, sobretudo os estrangeiros.
No caso do Brasil, está usando tarifas para conseguir que o Supremo inocente Bolsonaro, suspenda a regulamentação judicial das mídias sociais e cesse a suspensão de contas de bolsonaristas na internet. A exigência é descabida e, na falta de termo melhor, imperialista. O Brasil não é frágil como um pequeno país centro-americano, nem hiperdependente dos Estados Unidos, como o México. Além do mais, o Supremo é um Poder independente do Poder Executivo. Só mesmo o delírio de grandeza de Eduardo Bolsonaro poderia esperar que tarifas contra o setor produtivo e punições bancárias a Moraes pudessem coagir o Supremo.
Não apenas as medidas não surtirão o efeito desejado, como terão o efeito contrário. A postura de Trump unirá ainda mais o Supremo e isolará ou enquadrará Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux. E tornará muito mais difícil reorientar a Corte. A lista de problemas por lá não é pequena. Começa com os inquéritos abertos de ofício — sem objeto definido, sem prazo para acabar — e com a confusão de papéis entre vítima, investigador e juiz. Depois, vem uma sequência de medidas equivocadas e desproporcionais: a cassação de contas em mídias sociais, estabelecendo de fato censura prévia, sentenças duríssimas contra os bagrinhos do 8 de Janeiro e os erros que sustentaram a prisão de Filipe Martins.
A persistência dos conservadores foi capaz de trazer essas questões à luz, mas sua incapacidade de dissociar a exposição dos problemas do STF da vontade de livrar Bolsonaro da cadeia compromete o diagnóstico. Os bolsonaristas não conseguem condenar o golpismo de 2022/2023 da mesma maneira e pelos mesmos motivos que os lulistas não conseguem reconhecer a corrupção na Petrobras. Quem considera a mão pesada de Moraes uma ameaça à democracia não deveria achar inócuo decretar estado de sítio sobre o TSE ou um general planejar assassinar autoridades.
Não conseguiremos consertar os problemas do Supremo sem também condenar o golpismo. E nada disso será conseguido com o apoio de Trump. O conservadorismo se manterá isolado enquanto permanecer refém das estratégias personalistas da família Bolsonaro.

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