O ato da camarilha esvazia o sentido da frase: patriotismo não pode ser último refúgio de quem implicitamente o rejeita em sua ação. Durou meia hora a exposição da sabujice lesa-pátria, até que se tomasse a providência de retirá-la. Tarde demais. O fato chegou às redes, o país inteirou-se da vilania impatriótica, isto é, da exaltação a uma ameaça estrangeira de absurda intervenção no Judiciário brasileiro, que acabou se concretizando.
Traição ao sentimento nacional envergonha o bom senso. As lideranças do Congresso começam a cogitar de alguma seriedade interna. Mas para o grande público fica a interrogação de como são possíveis comportamentos tão aberrantes à liturgia do cargo, mesmo em se considerando o estado civicamente regressivo da composição parlamentar.
Em princípio, seria insuficiente a exclusiva atribuição do fenômeno à ultradireita, pois nem todos os extremistas ousaram expor-se dessa maneira. Pode-se pensar no arroubo de uma turma juvenilizada em estilo cafajeste. Jovens costumam mostrar-se mais permissivos em companhia de pares. É a lógica das gangues, das torcidas de futebol violentas.
Mas se trata de políticos eleitos. Ocorre então a hipótese de uma demência coletiva manifestada como síndrome de padrões disfuncionais de cognição e comportamento. Não figura em manuais de psiquiatria. É um continente desconhecido, para além de motivações apenas individualizadas, em que se age sem fundamento, por puro efeito autodemonstrativo. No período Bolsonaro, deu-se atenção pitoresca a fenômenos dessa natureza nas ruas e nas rodovias, quando pequenas aglomerações marchavam sem rumo certo ou rezavam para pneu de caminhão. Voltados para as macrocausas político-econômicas, os observadores sociais deixaram escapar, por insignificante, a obtusa singularidade desses comportamentos. Neles se divisa agora uma dimensão significativa, em que miúdos eventos aberrantes se conectam a outros muito maiores numa escala continental. Ações egotistas, sem negociação.
O ataque trumpista ao Brasil é demencial. Os negociadores, diplomatas e empresários, atêm-se aos aspectos econômicos das tarifas anunciadas, embora cientes da improcedência do argumento de déficit comercial desfavorável aos EUA. Na realidade, trata-se de apelar ao senso comum. Sobra assim o motivo de estreiteza territorial, imperial, animalizado de um indivíduo que diz "faço porque posso". Como na fábula, o lobo fala ao cordeiro. É a essência do terrorismo, cujos atos são inegociáveis.
Mas, neste milênio, a suposta vítima pode se fortalecer, ao modo de minérios críticos, dentro da cadeia produtiva global. A receita estaria na formulação de numa Grande Política, que ponha fim à sua própria demonização por meio de um projeto nacional coerente, em frente ampla. É a garantia de voz forte em negociação, antídoto de canalhice, única escapatória do continente da demência.

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