segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Militares, mensalão, Michelle e milícias

Um agregado das milícias, se não ele mesmo miliciano, pagava contas dos Bolsonaros e punha ainda mais dinheiro na conta de Michelle Bolsonaro, como mostrou a revista Crusoé nesta sexta-feira.

O senador Flávio, o filho 01, enrola-se a cada vez que fala do seu caso com Fabrício Queiroz, motorista, segurança e contato da família com pistoleiros e milicianos, elogiados em público e condecorados pelos Bolsonaros.

Parece tudo tão velho e sabido desde pelo menos 2018. Portanto, é cada vez mais impressionante que o país se acomode a uma família presidencial relacionada com o crime organizado e acusada de fazer seu pé de meia com o furto de dinheiro público à boca pequena, pois sempre foi marginal na política, sem acesso à roubança em grande escala.

Acomodar-se é a palavra a que se deve prestar atenção.

A ameaça hoje mais direta à sobrevivência política de Jair Bolsonaro vem do Supremo Tribunal Federal. Mas no conjunto do Judiciário há um jogo de morde e assopra, de sufoco e alívio. Manipula-se um cabresto para manter o presidente na raia que fica entre o golpe e o impeachment.

 


Os generais, por sua vez, não têm pudor algum de apoiar uma família presidencial associada a agregados da milícia, no mínimo, além de se juntarem às ameaças golpistas do presidente e lançarem manifestos subversivos oficiais.

Negociam eles mesmos o arreglo de Bolsonaro pai com presidiários do centrão, de que faziam troça ainda na campanha de 2018.

Agora mais abertamente do que qualquer casta da alta burocracia, buscam salários maiores, prebendas, aposentadorias gordas, boquinhas para amigos e parentes ou verbas para suas armas. Buscam também reconhecimento, iniciativa que morre mesmo antes mesmo de sair da lama das trincheiras, dados o desastre administrativo, vide o caso do almoxarifado da Saúde, e a apologia de ignorância ou de barbaridades como a tortura.

Parece agora claro que não se pode ter ilusão alguma a respeito do governo militar, do sentido do que fazem os generais do Exército e seus comandados.

Seja pela popularidade restante de Bolsonaro, seja pela possibilidade de cavar rendas, verbas e cargos, “business as usual”, o Congresso acomoda-se ao governo. A cabeça dos lava-jatistas é servida como acompanhamento desse acordão.

Causa cada vez menos escândalo a intervenção de Bolsonaro nos órgãos de controle, que começou no falecido Coaf, passou pela Polícia Federal, estabeleceu-se na Procuradoria-Geral da República e agora pode ser minada de dentro, com a renovação dos órgãos de espionagem.

Rasgou-se a fantasia grotesca de moralidade. Fizeram picadinho do lacerdismo tardio da Lava Jato, o morismo. Tão ao gosto dos Bolsonaros e Queiroz, agora faz-se um rolo a fim de dar um jeito no teto de gastos, teto que era a justificativa limpinha restante daquelas que o establishment e tantos de seus economistas deram para se associar a Bolsonaro.

O presidente precisa de um Bolsa Família para chamar de seu; parte de seus ministros e do centrão quer dinheiro para investimento em obras. Nada disso é possível sem que ao menos se abra um buraco no teto de gastos ou, muitíssimo improvável, se dê um talho imenso no salário dos servidores (“não passará!”).

É a isso que as elites brasileiras se prendem? Uma promessa fiscal precária vale uma sociedade com golpistas, milícia, rachadonas, razia no ambiente e na educação, inércia criminosa na saúde, disseminação da ignorância, de ódio, mentiras sórdidas e vexame diplomático?

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