sexta-feira, 8 de maio de 2020

Velhos generais

O bagulho está louco. Às vezes parece que a tática bolsonarista é tornar a vida no Brasil tão insuportável que dê saudades da ditadura militar. Mas sem ele. Não dá para compará-lo a Castello Branco ou Ernesto Geisel, que o chamou de “mau militar”, e até Figueiredo, que foi sempre o primeiro da classe nos cursos do Exército, e pareceria um estadista educado ao lado de Bolsonaro. Costa e Silva, que também foi sempre o primeiro da classe, tinha algumas dificuldades de expressão, mas seria um erudito diante do Jair.

O Exército respeitava a meritocracia, o preparo individual, a carreira, embora isso não garantisse um bom governo. Pelo menos na ditadura os filhos dos generais-presidentes não se metiam em política e não mandavam nada. Nesse tempo torturavam e matavam fisicamente, agora assassinam reputações e disseminam fake news com exércitos de robôs. A paranoia comunista volta aos tempos da Guerra Fria. Nenhum ministro da Educação da ditadura foi pior e mais ignorante do que Abraham Weintraub. Nenhum general-presidente condecorou milicianos ou tentou emplacar um filho sem qualificações para a embaixada em Washington. A censura de financiamentos públicos para filmes e peças,“em defesa da família”, é mais radical que na ditadura.


Não dá para ter saudades da ditadura, mas mesmo seus piores governos foram melhores que o de Bolsonaro em eficiência e compostura. O Exército sabe disso. O homem está descontrolado. Dá desculpas esfarrapadas e não explica seu xodó pela Polícia Federal do Rio de Janeiro. Pior do que ter o dele é ter o rabo do filho preso, vale tudo para salvá-lo. E se não der?

Imaginem um cenário em que Flávio Bolsonaro, depois do devido processo legal, é condenado por unanimidade no STF e vai preso. O que faria o capitão? Seu governo acabaria? O Exército apoiaria um golpe por causa de Flávio Bolsonaro?

Pouco provável, mas, mesmo assim, mais do que a inviável candidatura de Bolsonaro quando foi lançada. O Brasil é muito louco. De tanto sofrer foi enlouquecendo.
Nelson Motta

Nenhum comentário:

Postar um comentário