Democracia, um valor universal – principalmente após a queda do Muro de Berlim – é o legado cultural de uma nação. O nosso é um legado de valores políticos, marcado por regimes autoritários, capitalismo de compadrio, que vê o Estado como mais um patrimônio para suas estratégias empresariais, onde a corrupção é a palavra-chave para implementá-las, cavando, de forma profunda, a perversa vala das desigualdades.
E nós, cidadãos comuns, com seu cotidiano ocupado pelo trabalho, os impostos e a família, qual é o nosso papel nesse negócio chamado democracia? Ironicamente, somos sujeito – quando damos forma à classe política, por meio do voto – e objeto, ou vítima, se preferirem, quando temos nossas vidas – do nascimento até a morte – afetadas por decisões dessa elite política que escolhemos para nos governar. E por que países como Noruega, Suécia e outros, como as grandes democracias europeias, nos parecem funcionar tão bem? A resposta, se é possível resumir em uma variável, vem da formação da cultura política de seu povo, forjada a ferro e fogo, tendo o cidadão no centro do processo decisório, e o Estado menos vulnerável ao acossamento das elites. Isso não cai do céu, é uma conquista permanente!
Com as manifestações de rua de junho de 2013, algo de muito importante começou a acontecer. Setores da sociedade civil foram às ruas marcar, de forma violenta, sua insatisfação contra o status quo. Depois, na esteira da Operação Lava Jato, vieram as manifestações em favor do impeachment de Dilma, dando, de quebra, espaço a extrema direita. O bolsonarismo é uma onda antidemocrática que, surfando nas ondas do antipetismo, chega ao poder com o que há de mais abjeto em um sistema político: a intolerância à diversidade humana e o uso da violência contra tudo aquilo que lhes é diferente. Estes dois atributos são seus principais “recursos intelectuais”.
A este fenômeno – a guinada abrupta do eleitorado saltando de um petismo corrupto para uma direita neomedieval-, dei o nome de “o pêndulo da irracionalidade”.
Foram nossas escolhas que moldaram este cenário de extrema dificuldade para o ambiente democrático. As instituições estão sendo testadas no limite, e caberá a nós, eleitores, fazermos as escolhas que ajudem a quebrar essa danosa polarização entre lulistas e bolsonaristas, substituindo a paixão irracional que dividiu o país pela racionalidade – fazendo uso da razão para distinguir onde estamos sendo capturados pela falsas narrativas ideológicas – elevando a qualidade das nossas escolhas nas próximas eleições.
Sim, vivemos em plena democracia, nossa democracia, brasileira como a feijoada e a jabuticaba, com todas as severas limitações de eleitores e líderes, e um Estado oneroso, ineficiente e corporativista, os quais, em conjunto a fazem funcionar. E será com ela que teremos de seguir nossa história, pois sem ela instala-se o caos e a barbárie do autoritarismo, já experimentado por nós, décadas atrás. No autoritarismo, fenecem os valores civilizatórios, os partidos e a sociedade civil são esmagados pelo peso da bestialidade humana, concentrada na mão do tirano.
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