Um pouco por todo mundo, incluindo Portugal, tem emergido uma panóplia de “novos” partidos políticos, uma parte dos quais de natureza claramente ‘populista’.
O populismo corresponde a posições políticas que enfatizam a ideia do ‘povo’, um grupo ‘virtuoso’ e ‘moralmente bom’, contrapondo-o a uma ‘elite’ (política, mas não só) considerada corrupta e centrada na maximização do seu bem estar/ interesse. Os partidos populistas são frequentemente liderados por figuras carismáticas que se apresentam como a ‘voz do povo’, explorando cinicamente a insatisfação do cidadão comum .
Três fatores têm contribuido para a emergência desta ‘onda’ populista que está a minar os regimes democráticos: 1) a crise económica e financeira; 2) as circunstâncias económicas individuais, designadamente o desemprego e a precariedade do mercado de trabalho; 3) a percepção de uma corrupção crescente.
A mais recente crise económica e financeira convenceu grande parte dos eleitores de que estariam a ser governados por ‘elites’ desinteressadas, incompetentes e egoístas, mais preocupadas em ‘salvar’ os bancos e o sistema financeiro em geral do que preservar os empregos e o nível de vida do cidadão comum. Adicionalmente, diversos estudos (1) mostram que na Europa o desemprego tem sido uma razão fundamental da votação em partidos populistas de direita. Finalmente, o aumento da corrupção percecionada tem igualmente gerado uma perda de confiança na ‘elite’ política. No mais recente inquérito mundial da Ipsos MORI (2), os políticos surgem como o grupo profissional menos confiável do mundo. Os inúmeros e aparentemente infindáveis escândalos que envolvem os partidos incumbentes, abrangendo toda a latitude do espectro político, têm gerado uma insatisfação com a ‘elite’ política e, consequentemente, o surgimento de novos partidos populistas.
Os populistas aproveitam e cavalgam nesta onda crescente de ressentimento. Ainda que uma grande parte dos populistas façam parte do tal grupo de ‘ricos’ e ‘poderosos’, eles satirizam as ‘elites’ incumbentes de forma hipócrita/ cínica e, frequentemente, incoerente.
É da mais elementar honestidade intelectual reconhecer que nem todo o ‘povo’ é virtuoso e moralmente imaculado, assim como nem toda a ‘elite’ é corrupta e desinteressada. O grande problema do populismo é que as atitudes cínicas/ sarcásticas/ hipócritas corroem e desintegram as instituições democráticas que levaram décadas ou séculos e erigir.
Como afirmou Winston Churchill, “ninguém acredita que a democracia é perfeita ou onisciente. Na realidade, a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história.”
Aurora A. C. Teixeira
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