Onde se lia construir a democracia, o desenvolvimento econômico e o bem-estar, leia-se uma peleja irracional que poderá impedir nossa recuperação. Eis aí, de forma esquemática, o presente cenário brasileiro: indícios de reaquecimento ainda frágeis, duas tribos ideológicas fanatizadas engajadas em um enfrentamento que começa a tornar sem sentido a ideia de debate político, grupos corporativos preocupados tão somente com a defesa de seus interesses setoriais (“farinha pouca, meu pirão primeiro”) e o Estado perdendo altitude, corroído por dentro pelas lideranças das diferentes instituições.
Tenho consciência de estar carregando na tecla pessimista. Ao longo de toda a nossa história como País independente, sucumbimos de forma patética a uma queda de braço entre pessimistas e otimistas, ambos ocasionalmente com alguns argumentos plausíveis, porém, no mais das vezes, entoando de uma forma interminável seus respectivos estereótipos. De um lado, os pirrônicos discípulos do filósofo grego Pirro de Élis (365-275 a.C), aquele que pretendeu transformar o ceticismo em método e doutrina. Do outro, os panglossianos, reencarnações do Dr. Pangloss, personagem da sátira “Cândido, ou O otimismo” (1759), de Voltaire (1694-1778), para quem o futuro da humanidade seria o melhor dos mundos possíveis.
No presente momento, tenho para mim que os pirrônicos estão com dois corpos de vantagem, não só porque nossa situação doméstica parece carecer de anticorpos contra o tsunami de irracionalidade que se abate sobre nós desde a era Lula-Dilma, mas também por processos preocupantes que se desenvolvem na esfera internacional. Pensando só em nossos vizinhos, aí temos a Argentina retomando o ciclo de eterno retorno de sua espantosa decadência. O Chile, que quase saltou para o Primeiro Mundo, outra vez às voltas com sua longa tradição de agudos conflitos. A Bolívia de Evo Morales, que parecia capaz de nos surpreender positivamente, sucumbindo outra vez ao seu obsessivo desejo de não se desenvolver. E a Venezuela, naturalmente, que converte em prejuízo qualquer quantidade de tinta gasta em análises de qualquer tipo.
Duro de corroer, porém, é a esfinge chinesa, mescla de economia desregulada com um férreo totalitarismo. O peso que terá na ordem mundial por certo nos forçará a manter relações estreitas com ela. É plausível cogitar que um dia aquele país adote um modelo político democrático?
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