sexta-feira, 5 de julho de 2019

A lua de mel 'caliente' de Bolsonaro

Em homenagem a Jair Bolsonaro, que curte metáforas amorosas para cortejar ou alfinetar, vamos fazer aqui uma cortesia ao presidente. Explicar a ele que, se deseja mesmo tentar a reeleição em 2022, precisa se despir de suas convicções mais íntimas e profundas. Porque elas “no pasarán”. Nem no Senado de Alcolumbre, nem na Câmara de Maia, nem num Supremo Tribunal Federal vitaminado por um futuro ministro evangélico. Bolsonaro terá que fingir ser uma outra pessoa.


Os primeiros seis meses de mandato costumam seguir um ritual de namoro e de esgrimas políticas. Não de chicotes, sarcasmos e sopapos em rivais e aliados. Com a cumplicidade tosca e grosseira dos filhos Carlos, Flávio e Eduardo, e daquele filósofo dos States, Bolsonaro fritou e demitiu ministros, generais, secretários e presidentes de estatais. Às vezes com humilhações públicas. Uns saíram atirando de volta, outros emudeceram. E até hoje todo mundo sabe que a pasta de Educação continua vaga – pois não há quem em sã consciência apoie Abraham Weintraub como ministro.

A primeira-dama Michelle sumiu depois daquele tour virtual nos aposentos do Alvorada, exibido pelas amigas. Pode ter sido coincidência. A ministra Damares, a que viu Jesus na goiabeira, também desapareceu. O ministro do Turismo, com seus três nomes, Marcelo Álvaro Antônio, é desconhecido de 99% dos brasileiros e pode ser convidado a catar laranjas em outro lugar. O general Augusto Heleno prova o gosto do veneno de Carlos, o filho conspirador. O ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni anda cabisbaixo depois que o chefe o tirou da articulação política. Onyx não tinha sido convidado para a semifinal da Copa América no Mineirão?

Mas esse texto não é para confrontar Bolsonaro. Nem para alertá-lo de que estádio não é lugar para fazer “arminha” e rodopiar a bandeira como caubói. Não é para lembrar que simulacros de pactos com o Legislativo e Judiciário desmoralizam o governo. Ou que não pega bem atropelar sua equipe, ofender manifestantes, fazer piadinha vulgar e peitar o Congresso. Óbvio.

Não é para torcer contra o Brasil. Ainda mais numa semana em que se começou enfim a votar uma reforma da Previdência – mesmo sem ser a do Posto Ipiranga. E comemoramos o acordo comercial histórico entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há 20 anos.

Esse texto é propositivo. Para avisar a Bolsonaro que ele não conseguirá aprovar porte e posse de armas e fuzis para os cidadãos, não num país com recorde de homicídios. Pare de remendar e reeditar decretos, já está no sétimo. Não conseguirá acabar com os radares, nem com a multa da cadeirinha, nem com o exame toxicológico dos motoristas profissionais. Ainda mais num trânsito que mata uma pessoa a cada 15 minutos! Não conseguirá continuar a desmatar a Amazônia, senão ameaçará o acordo comercial com a Europa. Não conseguirá continuar a liberar pesticidas a rodo. Não conseguirá descriminalizar a homofobia, porque o STF já votou e o irritou. Não conseguirá fazer de Paraty uma Cancún, ainda mais agora que a Unesco pode promover a região a Patrimônio da Humanidade. Não conseguirá empurrar o nióbio como a redenção do país.

Como o presidente acha o Brasil “ingovernável”, por que tentar a reeleição? Desista ou pare com as caneladas e obsessões. Depois da lua de mel, os “conges” costumam se estranhar, se houver assédio e violência. Bolsonaro está sob pressão, fora e dentro de casa. Encurralado, pode se transformar. Há quem acredite em milagre.

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