Os primeiros seis meses de mandato costumam seguir um ritual de namoro e de esgrimas políticas. Não de chicotes, sarcasmos e sopapos em rivais e aliados. Com a cumplicidade tosca e grosseira dos filhos Carlos, Flávio e Eduardo, e daquele filósofo dos States, Bolsonaro fritou e demitiu ministros, generais, secretários e presidentes de estatais. Às vezes com humilhações públicas. Uns saíram atirando de volta, outros emudeceram. E até hoje todo mundo sabe que a pasta de Educação continua vaga – pois não há quem em sã consciência apoie Abraham Weintraub como ministro.
A primeira-dama Michelle sumiu depois daquele tour virtual nos aposentos do Alvorada, exibido pelas amigas. Pode ter sido coincidência. A ministra Damares, a que viu Jesus na goiabeira, também desapareceu. O ministro do Turismo, com seus três nomes, Marcelo Álvaro Antônio, é desconhecido de 99% dos brasileiros e pode ser convidado a catar laranjas em outro lugar. O general Augusto Heleno prova o gosto do veneno de Carlos, o filho conspirador. O ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni anda cabisbaixo depois que o chefe o tirou da articulação política. Onyx não tinha sido convidado para a semifinal da Copa América no Mineirão?
Mas esse texto não é para confrontar Bolsonaro. Nem para alertá-lo de que estádio não é lugar para fazer “arminha” e rodopiar a bandeira como caubói. Não é para lembrar que simulacros de pactos com o Legislativo e Judiciário desmoralizam o governo. Ou que não pega bem atropelar sua equipe, ofender manifestantes, fazer piadinha vulgar e peitar o Congresso. Óbvio.
Não é para torcer contra o Brasil. Ainda mais numa semana em que se começou enfim a votar uma reforma da Previdência – mesmo sem ser a do Posto Ipiranga. E comemoramos o acordo comercial histórico entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há 20 anos.
Esse texto é propositivo. Para avisar a Bolsonaro que ele não conseguirá aprovar porte e posse de armas e fuzis para os cidadãos, não num país com recorde de homicídios. Pare de remendar e reeditar decretos, já está no sétimo. Não conseguirá acabar com os radares, nem com a multa da cadeirinha, nem com o exame toxicológico dos motoristas profissionais. Ainda mais num trânsito que mata uma pessoa a cada 15 minutos! Não conseguirá continuar a desmatar a Amazônia, senão ameaçará o acordo comercial com a Europa. Não conseguirá continuar a liberar pesticidas a rodo. Não conseguirá descriminalizar a homofobia, porque o STF já votou e o irritou. Não conseguirá fazer de Paraty uma Cancún, ainda mais agora que a Unesco pode promover a região a Patrimônio da Humanidade. Não conseguirá empurrar o nióbio como a redenção do país.
Como o presidente acha o Brasil “ingovernável”, por que tentar a reeleição? Desista ou pare com as caneladas e obsessões. Depois da lua de mel, os “conges” costumam se estranhar, se houver assédio e violência. Bolsonaro está sob pressão, fora e dentro de casa. Encurralado, pode se transformar. Há quem acredite em milagre.
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