quarta-feira, 27 de março de 2019

Deu no jornal

Ricos, em condomínio de luxo não atingido, receberão indenização da Vale
A Vale, frequentemente acusada de desamparar pessoas pobres atingidas pelas tragédias que provoca, ofereceu a moradores de um condomínio de luxo, que fica muito acima da barragem de Brumadinho e não foi nem de longe atingido, o auxílio de um salário mínimo por um ano. E por incrível que pareça parte dos moradores pretende aceitar a "indenização emergencial", como é chamado o benefício.
O condomínio Retiro das Pedras fica na divisa com Nova Lima, em uma parte alta, mas ainda está no município de Brumadinho. Só que a altura em que fica o Retiro jamais fez a lama tóxica ameaçá-los.
 Mesmo assim no último fim de semana houve disputa dos formulários levados pelo prefeito e representantes da companhia, segundo conta um dos moradores que recusou a ajuda imerecida e revela que houve até tumulto na disputa dos formulários. Acharam que foram poucos os formulários levados.

A Vale confirma que vai pagar esse benefício, alegando que pelo critério geográfico o condomínio fica na cidade. A síndica Claudia Baeta confirma que alguns moradores vão receber e conta que o tumulto na reunião foi motivado também pela surpresa. Os moradores não imaginavam que teriam direito à indenização. De fato não deveriam ter. Ela conta que o prefeito de Brumadinho visitou também outros condomínios que ficam longe da barragem rompida, como o Retiro do Chalé e o Casa Branca, e tem sugerido que todos os moradores aceitem a indenização, e, segundo ela, ele disse que quem não quer ficar com o dinheiro poderá doar.
 O Retiro das Pedras tem em torno de 680 lotes e havia cerca de 100 pessoas na reunião. Claudia relata que nem todas as pessoas aceitaram a indenização.
 — Eu ainda não decidi e não tenho a obrigação de divulgar minha decisão. Não acho que tenho direito à indenização, mas a regra foi decidida pelos órgãos responsáveis— diz a síndica. Ela diz que cogita doar os valores.
 Cada um dos adultos que comprove que morava em Brumadinho no dia 25 de janeiro, quando a barragem se rompeu, tem direito a um salário mínimo mensal por um ano. É preciso apenas um documento de comprovação, como a conta de água ou o registro em posto de saúde. Adolescentes têm direito a meio salário mínimo. Para crianças, a indenização é de um quarto do salário mínimo, também pelo prazo de um ano.
Até aqui, ao todo 1.300 pessoas se cadastraram para receber a indenização emergencial. A Vale não informa quantos são moradores do Retiro das Pedras ou dos outros condomínios da região. A empresa explica que está cumprindo o acordo firmado com a Advocacia-Geral do Estado e também a da União, o Ministério Público do Estado e o MPF, além das Defensorias Públicas do Estado e da União.
É óbvio que o acordo tem que ser para quem for atingido e não para moradores de condomínios de luxo, longe de onde ocorreu o fato e bem acima da terrível tragédia.Míriam Leitão

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