terça-feira, 16 de outubro de 2018

Prevenção secundária

A democracia é vulnerável a ameaças que venham de dentro. Essa é só uma de suas muitas imperfeições. E é difícil mudar isso, porque, para fazê-lo, teríamos de relativizar características fundamentais do sistema, como a soberania do voto popular e a possibilidade de o Congresso Nacional aprovar emendas constitucionais e leis que alterem as regras de funcionamento do Estado.


A provável eleição de Jair Bolsonaro (PSL), estou convencido, representa um risco. Há bastante exagero na visão daqueles que equiparam automaticamente a vitória do capitão reformado à morte da democracia, mas seu histórico de declarações destrambelhadas nos dá razões para genuína preocupação.

O que saiu errado? Eu diria que a prevenção primária falhou.

Fossem as nossas instituições democráticas um pouco mais hígidas, seria praticamente impossível para um partido político nanico como o PSL fazer um presidente. E nenhuma das siglas “mainstream” jamais daria legenda a alguém como Bolsonaro.

Não chego a afirmar que o eleitorado nunca escolheria um populista sem o menor preparo para o cargo porque sabemos, desde Platão, que o povo, mesmo quando instruído e bem alimentado, pode fazer grandes barbeiragens diante da urna.

A confirmar a eleição de Bolsonaro, só o que nos restará é a prevenção secundária, que é a que lida com doenças já instaladas e, através do diagnóstico e do tratamento precoces, procura evitar que elas passem da fase assintomática para a sintomática.

Em português claro, isso significa que precisaremos estar atentos para bloquear democraticamente ab ovo as iniciativas bolsonarianas de maior potencial democraticida. Para tanto, temos Congresso, Justiça, vários órgãos de Estado formados por burocracias estáveis e a própria opinião pública, que hoje parece estar majoritariamente com o capitão, mas que já deu mostras de que é volúvel e sabe cobrar de seus governantes.

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