terça-feira, 16 de outubro de 2018

Em nome do PT, Haddad deveria pedir desculpas ao Brasil

Induzido por declaração do derrotado candidato petista ao Senado, pelo Acre, Jorge Viana,admitindo que o partido não fez autocrítica com relação aos crimes praticados durante seus anos de governo, Haddad foi levado a reconhecer a falta de controle interno na corrupção dominante nas estatais neste período. Haddad poderia ter aproveitado a chance, talvez a derradeira, e pedir desculpas à população brasileira em nome do Partidos dos Trabalhadores.

Não como mais uma estratégia eleitoreira, mas para não entrar na história como o candidato à Chefia do Governo do Brasil que, para vencer o opositor, silenciou sobre os desmando e crimes praticados pelo PT, que conhecia e contra os quais nunca levantou a voz. Até agora, tem apenas moderado seu discurso, avançando alguns compromissos que conflitam com as idéias defendidas pelo PT, mas nada ainda capaz de promover a organização de uma frente democrática sólida para impedir o fascismo de assumir o poder.

É curioso como fato de ter chegado ao segundo turno com 46% dos eleitorado cravando votos em Bolsonaro, para impedir o retorno do lulismo, não levou Haddad a reconhecer publicamente as razões de o PT ter sido rejeitado e mudar de rota. Com certeza, deve ter sido diferente o diagnóstico da sua entourage para minimizar o resultado eleitoral , recusando-se a admitir a contundente rejeição ao PT pela maioria dos eleitores, que todos sabemos é dor insuportável para o ser humano.

Ao contrário disso, além de dizer que não mudará a Constituição de 88, promessa feita até por Bolsonaro, apenas mudou de atitude externa e não interna. Deixou de visitar o padrinho presidiário e eliminou o vermelho da sua propagando eleitoral. É surpreendente como Haddad, com sua notável trajetória acadêmica, aceita ser o drone de Lula, a ponto de colocar sua máscara no rosto como crianças no carnaval. Professor de ciência política, formado em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, não é possível que acredite possa convencer algum eleitor com tão ridículas estratégias eleitoreiras. As pesquisas mostram que não.

Enquanto isso, sua equipe dedica-se a revolver o passado, a atuação parlamentar e o presente do seu opositor, que o desabonam, para atacá-lo. Também não tem funcionado. Melhor seria Haddad adotar um comportamento de estadista e buscar apoio dos democratas. Nunca é tarde para reconhecer erros e mudar de rumo.

Mas como fazê-lo? É claro que para a maioria que repudia o PT, ou vai votar em Bolsonaro apenas para afastá-lo da cena política nacional, não basta afirmar o que é ou não do interesse direto do seu bem estar. Para convencê-la de que algo é certo ou errado, seria necessário empregar uma linguagem de fins e não dos meios, abdicando de alguns poderes para socializá-los com os que lutam pela preservação da democracia. É grande o contigente de democratas que não recusará ajudá-lo nesta tarefa.

Não é preciso aceitar que a busca pela segurança, bem estar e igualdade poderia ser alcançada. Antes, porém, é necessário fazer o eleitorado contrário acreditar nisso. Mas esse força de persuasão o PT já não possui. Está desacreditado. Não há mais espaço para sua retórica. Não convencerá partidários de Bolsonaro e dos que optaram pelo voto em branco, nulo ou a abstenção. Mais do que issso, Haddad teria de afastar-se da legenda e conquistar novos aliados. Como até agora não demonstrou intenção neste sentido, nem apresentou boas razões para ser o escolhido, dificilmente vencerá o capitão. Restaria então a oportunidade única para fazer uma narrativa moral transparente. Mas isso parece fora da sua agenda.

Quanto a Bolsonaro, um deserto de idéias para garantir e ampliar a democracia no país, não compreende absolutamente nada sobre as causas das violência e da falta de segurança que há muito espalharam o medo de ir e vir da população. Julga e declara, com apoio da bancada da bala, que vai erradicá-la com mais polícia e milícias nas ruas, e a adoção de métodos violentos para enfrentar os bandidos, que nunca funcionaram no Brasil . Não integra seu primário repertório mental associar a origem do problema à imoral desigualdade social que nos envergonha. Já com relação à corrupção das elites, nenhuma medida consistente para erradicá-la.

O candidato da extrema-direita e seus partidários desconhecem que uma população menos desigual e mais instruída contribui para uma sociedade mais ordenada, que buscaria viver melhor do que no passado. A desigualdade não é somente indecente mas causadora de tensões sociais que Bolsonaro planeja enfrentar de rifle nas mãos. E nem percebem que a melhoria da vida do andar de baixo nada subtrairia ao andar de cima, mas somente benefícios traria para todos. Ao contrário, a prosperidade dos desfavorecidos levaria mais segurança aos mais ricos que, com certeza, sentem-se desconfortáveis pelo fato de viverem próximos à pessoas cujas condições deploráveis de vida funcionam como reprovação ética permanente.

Caso seus conselheiros houvessem lhe explicado as relações de causa e efeito entre o egoísmo dos mais ricos com relação à miséria dos mais pobres e a violência, eventualmente o capitão teria apresentado propostas para garantir saúde e educação de qualidade para todos, assumindo compromissos com a redução desse fosso que impede o acesso dos menos favorecidos aos benefícios concedidos às elites. Sem isso, todos os seus demais objetivos dificilmente serão cumpridos.

A exclusão a que está submetida a maioria da população brasileira somente exacerba a perda da coesão social. Como essa parcela significativa da sociedade sente-se discriminada, obrigada a penar do lado de fora dos muros das cidadelas do mais afortunados, onde desfrutam de vantagens e privilégios, a democracia poderá sofrer ameaça extra, além da representada pela eleição de Bolsonaro.

Talvez por escassez de massa encefálica, o candidato de extrema-direita não entende que matar bandido não fará a sociedade sentir-se mais segura. Caso fossem oferecidas condições dignas de vida ao andar de baixo, com a possibilidade de progredir num país tão injusto como o Brasil, haveria menos conflitos, violências e mortes decorrentes. Afinal os de de cima não devem apreciar viverem em casas com cercas de arame farpado eletrificado, guarda pessoal armada na porta e trafegando em carros blindados. Possivelmente, prefeririam flanar livremente e sem medo pelas ruas das cidades como nos tempos da infância.

Há razões para crer no desconforto das elites com a vizinhança dos que habitam no sub-solo. É possível que se sintam incomodados com sua proximidade. Mas nada disso entra na mente do capitão, mais interessado na montagem de uma aparelho bélico repressor da bandidagem. Ao contrário do previsto por Karl Max, no seu livro “O 18 do Brumário de Napoleão Bonaparte”, afirmando que todos fatos importantes na história do mundo acontecem apenas duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa, depois dos governos petistas, estamos prestes a viver nova tragédia com a eleição do Bolsonaro.

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