quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Eterno fedor

Era uma vez, como tradicionalmente se registrava nas histórias de antigamente, um digno nobre do reino que tinha pavor de feder como todo mundo quando se tornasse cadáver. Achava a própria atuação entre seus pares como digna de brilho, merecedora da fragrância dos encômios, que não poderia nunca ser suplantada pela putrefação do esquecimento.

Poderoso, construiu grandioso mausoléu exaltando a Justiça (a própria, que redigira para seus pares), bem protegido de qualquer brecha que exalasse fedor. Assim construído, ali se enterrou o nobre.

Nem se passou semana, que quando por ali passavam visitantes enterrando seus familiares nem tão nobres, nem sequer supremamente justos, torciam o nariz quando perto do mausoléu.

Não fedia o morto, como quisera, fedia, e muito, sua lembrança. Anotaram os cronistas da época que só ali se aspirava a Erva de Urubu.
Luiz Gadelha

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