Tínhamos o 45, o 18, o 12. Também tínhamos o 30 e o 15. Todos números afeitos à composição, todos provenientes da multiplicação de pares de outros números que não eles próprios ou o singular dígito 1. Infelizmente, nas eleições brasileiras, já não cabem os arranjos, a conciliação de diversos, a estruturação em conjunto. Em meio à paranoia, às teorias conspiratórias, à confusão, e à desordem, parece claro que os números compostos estão prestes a cair no esquecimento do eleitorado brasileiro. Movimenta-se a população em direção àqueles números que se reduzem apenas a si mesmos ou ao isolamento unitário.
Como seriam os governos de números primos? Parte da resposta está em sua própria definição. Grandes dificuldades na composição com o Congresso, imensos desafios para alcançar a necessária conciliação do eleitorado brasileiro, a possibilidade de que testemunhemos um distanciamento ainda mais profundo entre as pessoas. Números compostos também enfrentariam problemas assim, não sejamos ingênuos. Contudo, as características dos números primos sugerem que suas dificuldades serão maiores.
Tomemos os números em sequência, começando, portanto, com 13. Há um imenso conjunto da sociedade brasileira que está enojada com o 13. Culpam o número por todos os problemas que o Brasil atravessou nos últimos anos, desde a crise de 2015-2016 até a eleição polarizada, a ascensão de militares da reserva, e a falta de opções viáveis para o voto iminente – passando, é claro, pela Lava Jato. Muitos dizem que o 13 é a razão única para apoiar 17, ainda que tal número seja controvertido, ainda que tenha apresentado vices e defensores com algum desprezo pela democracia, ainda que o próprio 17 tenha já manifestado o mesmo desprezo. Para esses, o 13 é o que há de mais vil na política brasileira, aquilo que não dá para cogitar, mesmo que o risco institucional associado ao 17 exista. Um governo de 13, portanto, careceria do apoio de boa parte do setor privado brasileiro, com ecos evidentes no Congresso. Sem apoio, difícil seria a tarefa de dar alguma ordem às contas públicas brasileiras. Mercados em turbulência constante, além de possíveis manifestações de seguidores e apoiadores de 17, alguns mobilizados pela falsa advertência de que se 13 porventura vencesse, as eleições teriam sido manipuladas, tornariam esse governo inviável.
O que passaria com 17? Da mesma forma que existe contingente mobilizado contra 13, as falas inflamadas de 17 e de seus companheiros militares da reserva aglutinou profundo repúdio em outras camadas da população. Camadas que já estavam mobilizadas pelo assassinato de Marielle Franco, pelas declarações do vice, pelos temores de que o viés antidemocrata possa acabar resvalando para o estranho fenômeno das democracias iliberais que testemunhamos mundo afora: na Turquia, na Polônia, na Hungria, nas Filipinas. A diferença apenas é que o sabor seria tropical. O governo de 17, portanto, se assemelharia bastante ao de 13, marcado por alto risco de ingovernabilidade, de turbulências financeiras, e por imensas dificuldades de implantar qualquer agenda de melhorias para o País.
Portanto, a escolha que se coloca diante dos eleitores brasileiros é: caos de esquerda ou caos de direita? Caos de 13 ou caos de 17? Risco institucional ou risco institucional? Eleições entre números primos, afinal, só poderiam mesmo gerar resultados irredutíveis na sua semelhança.
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