É verdade que momentos de crise tendem a exacerbar os sentimentos contraditórios da população, mas períodos de calmaria política não bastam para tornar sábio o eleitorado.
A literatura sociológica revela que a situação da economia é o fator que mais influi no resultado de pleitos majoritários, mas outras variáveis, incluindo algumas espúrias, como promessas populistas, podem às vezes mostrar-se decisivas.
Até o imponderável tem seu papel. Meu exemplo favorito é o dos ataques de tubarões em Nova Jersey, que provocaram um mau humor que quase custou a Woodrow Wilson sua reeleição presidencial em 1916.
Por que, então, diante de um comportamento coletivo tão incoerente e caprichoso, ainda insistimos em escolher nossos dirigentes pelo voto? Não estou aqui colocando a democracia em questão. Não há muita dúvida de que ela é o melhor sistema à nossa disposição. Virtualmente todas as nações ricas e desenvolvidas do planeta são democráticas.
A explicação é que a democracia funciona, não por causa de uma mítica sabedoria do povo que se materializa no voto, mas por características mais sutis e menos alardeadas, como favorecer liberdades individuais, a alternância no poder e, principalmente, por promover a estabilidade, exigindo sempre respeito a regras pré-definidas.
Isso torna ainda mais estúpidos os apelos por intervenções extraconstitucionais.
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