Também pela primeira vez depois da ditadura, o Governo Temer ordenou, com o apoio do Congresso, uma intervenção federal com liderança militar em um Estado, o Rio de Janeiro, outorgando poderes de governo a um general na delicada questão da segurança pública. E pela primeira vez um ex-militar, Jair Bolsonaro, disputará as eleições presidenciais com boas chances de chegar ao segundo turno. Foi ele quem antecipou que, se ganhar as eleições, quatro ministérios importantes do seu Governo ficarão nas mãos de outros tantos generais de “quatro estrelas” do Exército.
Antes que Temer chegasse ao Governo, os militares já demonstravam certa inquietação. Observou-se isso, por exemplo, durante todo o processo do impeachment de Dilma Rousseff, uma presidenta com quem as Forças Armadas tiveram sempre uma relação silenciosa, mas difícil, por seu passado de guerrilheira, torturada durante a ditadura. Os militares nunca confiaram nela, enquanto dialogavam com seu vice-presidente, Michel Temer.
Hoje a pergunta que se impõe é se essa presença e até a colaboração cada vez maior do Exército no Governo Temer se deve a essa especial boa relação que o político sempre manteve com os militares, ou se, como chegam a insinuar alguns, o presidente possui informações que não chegam à opinião pública sobre o mal-estar que reinaria em alguns círculos importantes do Exército, enquanto nas ruas, nas manifestações, vimos gente pedindo uma intervenção federal. Temer poderia estar dando mais relevo à presença do Exército em seu Governo porque conhece de perto sua lealdade com a democracia e seu desejo de participar mais ativamente na solução dos problemas do país, ou estaria tentando ganhar os militares ao lhes oferecer uma maior margem de manobra, já que conhece de perto a agitação que reina nos quartéis.
Nos próximos meses ficaremos sabendo se esses mimos ao Exército se devem apenas às boas relações de Temer com os militares, ou se por trás disso pode existir algum outro interesse político pessoal dele. Talvez esteja convencido de que, depois da ditadura, desapareceu qualquer perigo de insurreição militar, e que, portanto, os generais devem ser vistos como uma força democrática que pode ajudar a resolver os problemas do país. Ou poderia ser que o presidente, ao abrir as portas do Governo aos militares, esteja enviando a mensagem de que as Forças Armadas andam inquietas com os rumos do país e podem ter começado a soar os sinos de alerta de uma instituição com a qual é preferível colaborar para evitar tentações piores.
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