terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Assim o diabo dispõe

Há duas semanas não se respira outro ar no país que a putrefação governamental. A marginalidade puxou o cordão no Carnaval e deu a deixa. Michel Temer foi rápido em sair como porta-bandeira do enredo Segurança Nacional. Está dando tremendo ibope. Temer botou olho em garantir votos para manter-se na cadeira gigantesca para quem é mínimo.

Entre os prós e contras da intervenção, vai-se tocando o país como Deus quer e o diabo dispõe.

A senhora do bairro nobríssimo, de metro quadro estratosférico (na mesma região onde moram os integrantes da quadrilha cabralina) saúda as tropas como num 7 de setembro. Nenhuma surpresa no alívio da moradora. Ao sentir o bafo próximo da marginalidade numa ameaça ao ir e vir, a mediocridade se sacode.  


Há décadas a bandidagem campeia na periferia ou comunidades, metáforas para favelas, que encobre o que não se quer ver. Criança aprende a ler e a escrever na escola e a assiste cadáveres largados pela rua. Conhece cedo a lei do silêncio e tem os ouvidos apurados para reconhecer o som de tiro à distância. Desde pequeno sabe como sobreviver em meio a tiroteios. O cotidiano desses é próximo ao de uma guerra civil. E aquela senhora só não lamenta anos e anos de bandidagem que dominam essas áreas de pobreza, às vezes extrema, mas c'est la vie...

É com o desespero da mediocridade (burguesia no jargão dos anos 1960) que os novos redentores esperam assegurar o continuísmo de um país ainda mais dividido entre privilegiados e desprestigiados. Mais uma bandeira que agitam para convocar as massas e sacudir a pança cheia. Desde que a marginalidade volte a se afastar ou se entrincheirar apenas entre a pobreza, o Brasil estará salvo. E assim prosseguem os governos momescos para alegria de quem usa e abusa da palavra Nação a bel-prazer.
Luiz Gadelha

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