Deixando de lado o dado não desprezível se Lula será candidato ou não, pesquisas, nesta etapa, são pouco mais do que recall. Nelas, importam as pistas que fornecem sobre como anda a cabeça dos brasileiros e como ela evoluirá até 2018.
E 79% valorizam em muito a experiência administrativa do candidato, requisito do qual Bolsonaro está a quilômetros e quilômetros de distância.
De fato, as águas parecem correr para os moinhos do centro democrático.
A recuperação, ainda que lenta, da economia e do emprego, cujo ritmo tende a ser mais forte no próximo ano, jogam a favor do centro, enquanto a deterioração dos indicadores econômico-sociais, fortaleceriam saídas regressistas e salvacionistas, à direita e a esquerda.
Mas este centro democrático corre na direção contrária à das águas, razão pela qual ainda não se firmou como alternativa à polarização arcaica esquerda-direita, traduzida nas candidaturas Lula-Bolsonaro. Primeiro por atomizar-se em várias candidaturas. Mas não apenas por isso.
Diferentemente da França de Emmanuel Macron ou da Argentina de Mauricio Macri, não surgiu no Brasil uma formação política de centro, capaz de unificar seu espectro. O que assistimos foi sua dispersão e enfraquecimento pois seus principais partidos e lideranças foram atingidos pela crise ética, nivelando-se, aos olhos dos eleitores, na vala comum da corrupção. A mesma que dizimou o PT no pleito de 2016.
Em outras palavras: o campo democrático foi atingido pelos raios das denúncias contra nomes como os de Aécio Neves e Michel Temer, embora seus efeitos arrasadores venham sendo subestimados por uma visão economicista que acredita na assunção do centro por meio exclusivo da recuperação da economia. Sérgio Fausto, executivo da Fundação Fernando Henrique Cardoso alertou, com propriedade, quanto aos riscos dessa ilusão.
É viável atrelar o futuro do centro democrático ao sucesso econômico do governo Temer, passando ao largo das questões éticas que o afetam? Que chances de sucesso terá uma candidatura com essa mancha?
Sem desvencilhar-se desse fardo, o centro tateia quanto a estratégia a ser adotada, com cada candidato atirando para um lado. O faro do governador Geraldo Alckmin o induz a adotar o discurso da conciliação, da experiência. E o prefeito de São Paulo, João Doria, opta pelo belicismo por considerar que Lula será o grande candidato a ser batido, mesmo se estiver impedido de disputar a presidência.
Quanto a Marina Silva, faz falta gestos de sua parte capazes de evidenciar sua identificação com o centro e com a conciliação nacional. Ou seja, esclarecer se sua disposição é aglutinar o vasto campo democrático ou disputar o espólio da esquerda pós-Lula.
Dada à soma zero das candidaturas do centro, onde uma anula a outra, a superação da inércia deste campo teria de vir de fora para dentro – da sociedade para os partidos, forçando sua aglutinação.
Primeiro, em torno de um programa capaz de reconciliar os brasileiros na reconstrução do Estado e no desbloqueio da democracia. E, como consequência natural, de uma candidatura agregadora.
Sem esses dois requisitos a tendência será a dispersão, algo semelhante ao acontecido no pleito de 1989, que elegeu Fernando Collor com seus trágicos desdobramentos.
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