segunda-feira, 5 de junho de 2017

Quadrilha

Se você acredita que Lula foi dono de um tríplex que desistiu de comprar e é dono de um sítio por meio de terceiros, também está obrigado a acreditar que Michel Temer incorreu em crimes ao receber às escondidas no porão do Palácio do Jaburu a visita de um empresário enrolado com a Justiça, admitido ali com nome falso, e que disse e gravou o que ouviu a salvo da lei e de eventuais constrangimentos.

Se você torceu pelo impeachment de Dilma por acreditar que ela cometeu crime ao pedalar a Lei de Responsabilidade Fiscal, está igualmente obrigado a torcer para que a chapa Dilma-Temer seja impugnada tal o volume de provas e de indícios de que abusou do poder econômico nas eleições de 2014. A Constituição não permite que se separem as contas do titular da chapa e do vice.

Seu comportamento em relação a Lula, Temer e Dilma só deveria ser diferente se você advogasse a tese de que a lei existe para os demais, não para os que compartilham suas ideias e pontos de vista.


Lula está às vésperas de ser condenado no caso do tríplex do Guarujá. Dilma perdeu o mandato e corre o risco de perder os direitos políticos. Temer agarra-se à faixa presidencial empenhado em salvar a sua biografia.

Não apenas a biografia, também o privilégio de só ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Embora finjam estarem dispostos a reduzir o foro especial que os protege, e a mais de 55 mil autoridades, os políticos querem, sim, que ele permaneça intocável.

Os tribunais superiores são uma mãe para os poderosos. Demoram a julgá-los. E quando o fazem, dão um jeito de não puni-los.

É nisso que apostará Temer a partir de amanhã quando os sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral começarem a se debruçar sobre as contas da sua e da campanha de Dilma.

Se concluir que será cassado, acionará um amigo para que peça vista do processo, adiando o julgamento. Se for cassado, se valerá de recursos para ganhar tempo e evitar a palavra final da Justiça. É do jogo, infelizmente.

Temer não pensa, e de resto poucos políticos pensam, no que é melhor para o país. Entre os seus e os interesses alheios, não hesitam. E só largam o osso quando esse lhes é arrancado com violência à custa muitos dentes.

Sempre sobrarão alguns para que possam voltar a morder, não se lhes importando o mal que produzam. O poder não é só afrodisíaco, ele escancara as portas para muitos negócios.

Se ameaçados, as rotas de fuga são comuns. Lula se vê perseguido pelo procurador Rodrigo Janot. Temer diz que o perseguido é ele. Por medo, Lula desqualifica Sérgio Moro, o juiz. O pesadelo de Temer é cair no colo de Moro.

Lula investe contra as delações por achar que um preso mente para ser solto. Temer, idem. Lula abomina a Lava Jato. Temer atua para manietá-la, por enquanto sem sucesso.

Ensinou-se no Brasil do Segundo Reinado que nada se parecia mais com um conservador do que um liberal no poder.

Aprende-se no Brasil de hoje que um político de esquerda acuado é igual a um político de direita nas mesmas condições. Em salas à prova de grampos, Temer não esconde sua admiração pela capacidade de luta de Lula. No último fim de semana, Lula elogiou Temer por resistir a se entregar.

Se Janot não mudar de plano, Temer e Lula terão uma semana infernal pela frente. Ele dispõe de farta munição para atanazar ainda mais a vida dos dois – inclusive novas gravações. E está decidido a dispará-la.

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