Em tudo o que puder, a partida será delongada, portanto: interventor na Justiça, Torquato Jardim dá indicações de que com ele o jogo é de resistência, não de submissão. No mais, o presidente admite conflito institucional, mas não renunciará; à decisão do TSE caberá todo tipo de recurso; processos de impeachment são longos e complexos. Não há rito sumário para pesadelos e nem um árbitro que defina o final desse tipo de peleja.
Não apenas para o presidente: os áulicos que o cercam estão constrangidos pelas mesmas circunstâncias. Tendem a pressioná-lo a ficar e defender-se a si e ao grupo. O governo tornou-se refúgio para muita gente que aconselha — adula ou engana — o presidente. É possível imaginá-los aflitos, de olhos vermelhos: “fica, Michel; você vai se recuperar, ninguém vai te destituir. Você pode nos salvar, você vai nos redimir…” Temer tenta dominar sua incerteza.
Mas, mesmo que viesse a admitir a renúncia, não o faria sem tentar negociar salvaguardas: no balão de ensaio dos últimos dias, especulações em torno de anistia para ex-presidentes — agradaria também a outros. Por impossível, trata-se, portanto, de uma bobagem: mais uma vez, quem domaria o monstro da opinião pública? Nesses termos, não há acordo; não haverá armistício com o “partido da Lava Jato” — nem para o presidente, nem para o sistema.
O racional do sistema seria, então, pisar no acelerador, agilizar a aprovação de reformas ou medidas que indicassem o bom funcionamento do governo e do Congresso. Buscando aliados e alianças para dar prosseguimento à agenda reformista, Michel Temer tem investido nesta alternativa. Bate o bumbo a cada MP, insiste que controla, mas é pouco convincente.
Quem conhece os corredores do Congresso sabe que, na planície, deputados e senadores aliados preferem jogar o corpo com tifo ao mar, de modo a salvar o barco em que se agitam. Hoje, Michel Temer é temporariamente sustentado apenas pelas cúpulas partidárias, que concluem que dar tempo ao tempo é o mais razoável a fazer — até para encontrar alternativas.
Ademais, como recuperar a popularidade com uma agenda que mal conseguiu explicar? No próximo ano, 567 parlamentares (513 deputados, 54 senadores) disputarão eleição e, novamente, o mostro da opinião pública se coloca diante de cada um: para o político típico, nada é mais importante que a renovação do mandato, a longevidade do poder. A lógica individual e interesse particular se impõem. Ninguém aceita ser o peão sacrificado.
Há mais: a cada movimento do sistema em busca de preservação, haverá movimento estratégico do Ministério Público. Promotores e juízes tem a iniciativa do ataque e se mostram mestres nesse xadrez: jogam e esperam pelo lance do adversário, previamente calculam possibilidades; mesmo cometendo equívocos, parecem estar dez lances à frente de todos. Já vislumbram o que fazer, após o TSE?
O ambiente continuará, então, assim nessa água parada à espera de definições que virão ao seu tempo; nem antes, nem depois do tempo político. O tempo da História, que define caminhos e apresenta alternativas. Os fatos precisam acontecer. Os mais experientes sabem disso: Michel Temer perdeu bispos, torres; resta-lhe a combalida rainha da economia — cercada, com pouca mobilidade — um cavalo, mudando de casa; peões aflitos. Os lances são limitados, mas ainda não há clareza de que chegou o momento de deitar o rei no tabuleiro.
Carlos Melo
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