A obra de Ibsen é sobre a luta entre a razão e o poder, a razão encarnada em um homem só e idealista e o poder político, o dos meios de comunicação e o da massa. Fachin lembrou aos jornalistas a frase de Ibsen com que a peça se encerra: “O homem mais forte é o que está mais sozinho”. Poderia ter recordado também uma outra: “Quando uma verdade envelhece, ela se transforma em mentira”.
O que tudo isso tem a ver com o que vive o Brasil, com a polêmica em torno da Lava Jato, com as críticas à Justiça, com a corrupção, com a força que deve ou não ser conferida ao que pensa a maioria numérica simplesmente por sê-lo? O que significa essa força que o dramaturgo atribui à solidão daquele que abraça as causas que contrariam o poder? Será verdade que a democracia começa a se corromper quando se reduz tudo a porcentagens, a sondagens frias feitas para fazer crer que o que vale são os números e não as ideias das minorias que não se dobram e que lutam para revelar a injustiça?
Com sua provocação, de aconselhar os jornalistas a lerem Ibsen, Fachin colocou em pauta algo importante. Foi como se nos dissesse que, na corrida em busca da notícia, não deveríamos jamais esquecer de encontrar um tempo para ler e refletir, para mergulhar na literatura séria, a literatura das ideias, aquela que nos confronta com o nosso próprio ofício. Diante do ruído gerado por tanta notícia, diante de tantos interesses poderosos desafiados e da desinformação da massa, as obras de clássicos como Ibsen já antecipavam a pós-verdade e hoje nos colocam diante do paradoxo de que, como escreve o dramaturgo, “quando uma verdade envelhece, ela se transforma em mentira”.
Quais verdades estão envelhecendo e quais estão nascendo em meio à convulsão por que passa o Brasil neste momento? Fachin parecer querer lembrar que isso tudo também é de nossa responsabilidade, dos meios de comunicação que navegam conforme a moda ou o clamor da maioria, ou ainda, o que é pior, seguindo, como o personagem de Um inimigo do povo, aqueles que preferem continuar defendendo verdades que, por ter envelhecido, não passam agora de folhas mortas.
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