segunda-feira, 10 de abril de 2017

Cadeiras musicais

Não sei bem como ou mesmo quando aconteceu. A memória, por curta, diz que foi sempre assim. E a vista, por míope, prevê que sempre será. Doloroso olhar para trás. Assustador encarar o horizonte. São as consequências de viver sem rumo.

E la nave va. Eternamente à deriva. Nem para frente nem para trás. Ou melhor, sem saber se para frente e para trás, e certamente sem influenciar o destino. E, todavia, parecemos conformados.

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Impressionante a capacidade de convivência com a paralisia. Um pais que, quando tem sorte, anda para o lado. Em que cada indivíduo, corporação, empresa ou entidade busca a preservação exclusiva de seus privilégios. Ou mesmo aumenta-los até onde for possível.

Dizem que falta lei. Não é verdade. Sobram leis e regras. Mas falta alcance a cada uma delas. Todas vêm cheias de exceções e filigranas destinadas a colocar setores da sociedade fora de se alcance.

Não existe, portanto, incentivo a adoção e aderência as regras. E todos os incentivos para generalizar as exceções. O objetivo é sempre proteger as facilidades criadas para uns poucos em detrimento da maioria que, sem acesso ao poder, é forcada a seguir a regra.

Seguir as regras, portanto, perde o valor. Faz tempo que o país vive de tentar estender as exceções ao invés de gastar energia e tempo na tornar comum de aplicação das regras genéricas. Erro crasso, caso queiramos construir uma sociedade mais justa.

É o país ingresso VIP e da meia entrada. Coisa injusta. Que não constrói alicerce social. É apenas mecanismo que cria facilidades para uns em detrimento ao todo. E que, portanto, quando maciçamente aplicado, apenas cria privilégios. E gera custos que não são possíveis serem pagos. Até chegarmos onde estamos.

Sem a gente saber como pagar a conta de todos estes privilégios, vivemos um gigantesco jogo de cadeiras musicais onde quase todos vão ficar em pé quando a música parar. E parece que a música está no fim.

Elton Simões

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