Os caçadores derrotarão o lobo mau
Chapeuzinho Vermelho entrou toda faceira no quarto da Vovozinha, levando na cesta café com leite, queijo e uma maçã. A velha tirou a cabeça dos lençóis e espantou a netinha. “Vovó, para que esses olhos tão grandes?” “Para melhor te ver, minha querida”. “E essas mãos tão compridas?” “Para melhor de abraçar, meu bem”. “E essa boca com dentes tão feios?” “Para melhor te comer, meu petisco!” A história para crianças não termina assim, porque logo vieram os caçadores, mataram o lobo e retiraram a Chapeuzinho e a avó de sua barriga, ficando todos felizes.
A historinha se conta a propósito da chegada dos líderes dos partidos ao gabinete do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, ontem. Tinham sido convocados para cuidar da reforma da Previdência Social. Espantaram-se quando ouviram dele apavorantes ameaças no caso de o projeto do governo não ser aprovado. Perderiam as benesses e vantagens, não teriam apoio nenhum e seriam derrotados nas eleições do ano que vem. Cederam, dispostos a aceitar a proposta, antes de ser deglutidos, quando um deles exclamou: “Vamos chamar os caçadores!”
Parece evidente a reação da base parlamentar oficial à proposta que penaliza os assalariados e retira dos menos privilegiados os derradeiros direitos ainda vigentes. Pior fica a situação quando se acrescenta a reforma trabalhista.
O governo insiste e aterroriza o Congresso, diante do horror das mudanças apresentadas sob a promessa de recuperação da economia nacional. Ninguém escapará, nas eleições do ano que vem. Muito menos o empresariado, iludido com as promessas de ser favorecido com o sacrifício das massas. Elas são os caçadores, ávidos de arcabuzar quantos, como Eliseu Padilha, imaginam sobreviver à anacrônica iniciativa das prerrogativas do Lobo.
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