terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Olha o 'vai que cola' aí, gente!

Eles ensaiam toda semana, desde o início de fevereiro. Juntam muita gente. Chegam animados, batendo bumbo. Às vezes no sapatinho, discretos, como quem afina os instrumentos. É o bloco do Vai que cola. Apesar dos ternos bem cortados dos seus componentes, há quem garanta que é um ‘bloco de sujos’, como se dizia antigamente. Sua quadra de ensaios é inusitada: o Congresso Nacional.

De cara, no pré-carnaval, emplacaram os presidentes do Senado e da Câmara, ambos citados em delações da Lava-Jato. Mas isso não tem importância, é só disse-me-disse, pontifica o atual ‘rei Momo’ da brasileira folia, Michel Miguel. Momo só na realeza do poder de mando. Momo de nenhuma graça e rara espontaneidade na fala e na alegria. Momo sem excessos lipídicos, mas com abundância de medidas de retrocessos e supressão de direitos.


Depois o bloco acelerou o ritmo e deu urgência a um projeto para reduzir prerrogativas da Justiça Eleitoral e proteger direções dos partidos que tivessem suas contas rejeitadas. Até aqui, a evolução não colou, graças a uns poucos que desafinaram o coro dos contentes, fazendo barulho. A outra marchinha ensaiada foi politicamente incorreta e seu compositor, Romero Jucá, apesar do apoio de outros 30 colegas, inclusive a ala tucana em peso, interrompeu a brincadeira de tornar intocáveis os presidentes de Poder.

Como o nosso carnaval é conhecido no mundo, o Vai que cola desenvolveu pretensões internacionais e tentou garantir repatriação de recursos não declarados no exterior através de parentes de agentes públicos, o que a lei proíbe.

Os gritos de “vem cá seu guarda, bota pra fora esse moço”, ainda que minoritários, inibiram a manobra. Mas não impedirão a outra, suprema, de colocar no STF quem sofre acusações de plágio acadêmico e tem histórico de postura repressiva como Secretário de Segurança de São Paulo. Além de sucessivas filiações partidárias (DEM, PMDB e, até ontem, PSDB) e aceitação de defesa de causas no mínimo questionáveis – como as ligadas a Cunha – para postulante à mais alta Corte. A sabatina de adereços de mão marcados na CCJ do Senado, presidida pelo investigadíssimo Lobão, soa como alegoria de réu escolhendo o próprio juiz.

E assim seguimos, com o carnaval às portas, que ninguém é de ferro. Nas ruas, a festa é do povo, “imortal vitória da ilusão, missa campal do povo brasileiro, onde a hóstia sagrada é o pandeiro” (Evoé, Aldir e Moacyr!). Mas também há, nos salões chiques da nossa casta política e empresarial, gente que quer viabilizar, às custas do Erário, seu Céu na Terra. Suas aparências são sorridentes e enganosas: afinal, Simpatia é quase amor. Sorte que seu Monobloco não é monolítico, e nenhum cordão de isolamento segura o descontentamento. Ô abre alas para o movimento da cidadania ativa e consciente! Ele ainda É pequeno mas vai crescer...

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