Nos Estados Unidos não existe: ou é branco ou é negro. Mas se o caso for a marchinha imortal que há 85 anos é cantada e dançada com alegria por brancos, pretos e mulatos, o papo é outro.
“O teu cabelo não nega” é, antes de tudo, uma exaltação às mulheres mestiças, começando pelo título brincando com o cabelo crespo e o liso, gozando as que o alisavam a ferro quente para disfarçar a negritude. O autor gostava do cabelo crespo, é como se dissesse “não negue a raça, fique com seu cabelo como é, é dele que eu gosto”.
Na época, eram os racistas que diziam que a cor da pele era “contagiosa”, mas o autor da marchinha nega, e mais, quer o amor da mulata! Quem quer o amor de quem despreza?
É um alegre tributo à negritude e à mestiçagem de que é feita a nacionalidade. Em um contexto histórico.
“Tens um sabor bem do Brasil/Tens a alma cor de anil/Mulata, mulatinha, meu amor/Fui nomeado teu tenente interventor.”
É um deboche com a ditadura de Getúlio Vargas, que foi levado ao poder pelo golpe militar de 1930 e se tornou ditador, nomeando tenentes golpistas como interventores estaduais em substituição a quase todos os governadores.
Finalmente, a marchinha foi criada pelos compositores pernambucanos João e Raul Valença, em 1929, e Lamartine Babo a ouviu no Recife e gostou tanto que fez algumas modificações e a lançou com espetacular sucesso no carnaval de 1932, como se fosse sua. Os Irmãos Valença chiaram e partiram para a briga, e Lamartine teve que incluí-los na parceria. Para não deixar dúvidas quanto às suas intenções, os irmãos Valença eram, com todo o respeito, mulatos.
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