– Ei, é você!
– Hã?
– Não se lembra de mim?
– Acho que eu nunca te vi.
– Claro que lembra, faz um esforço! No ano passado a gente se encontrou aqui mesmo, neste bloco. Eu estava vestindo uma mistura de Osama bin Laden com Carmen Miranda.
– Sim, é claro! Com bananas de dinamite no meio do chapéu de frutas!
– Isso!
– Aquela fantasia era demais. Por que mudou neste ano?
– É que bebi muito na festa. Na hora de ir embora, um sujeito vestido de Saddam Hussein botafoguense me desafiou, dizendo que era mais terrorista do que eu.
– E aí?
– Aí fiz minha demonstração de homem-bomba: encharquei o chapéu de cachaça e o explodi. O personagem estava tão perfeito que, depois, todo mundo saiu a minha procura. Tive de me esconder por um bom tempo, até as coisas se acalmarem. Foi um estouro!
– Aposto que foi.
– Mas, desta vez, decidi usar algo mais simples.
– Deixa eu tentar adivinhar. Óculos redondos, bigode e barbicha, camiseta vermelha com a frase “Back in the U.S.S.R.”. Hummm… Não sei, desisto.
– John Lenin!
– Genial.
– Lembro que no ano passado você também estava vestido de maneira bem original. De Pica-Pau, né?
– Não, de Neymar.
– Desculpa, só me lembrei do penacho.
– Tudo bem.
A conversa dos dois é brevemente interrompida por um trenzinho que passa no meio dos dois. Um clone do Sidney Magal puxa a fila com uma rosa na boca, enquanto um bigodudo vestido de Mulher-Gato sapeca beijos de batom roxo na bochecha de ambos.
– Mas e neste ano? Não se fantasiou, por quê?
– Quem disse que não me fantasiei? Repara bem.
– Tá me parecendo normal: sandália, bermuda, camiseta.
– Vim de político foragido.
– Mas claro! Como não tinha percebido? Você é mesmo a lata daquele cara que está sendo procurado pela polícia!
– Nem me diga.
– Ei, olhando bem, é você mesmo que está sendo procurado pela polícia! Tô te reconhecendo!
Nesse instante, o trenzinho passa novamente e o sujeito trata de entrar atrás da Galinha Pintadinha. Logo em seguida, vem a Cleópatra e segura em sua cintura. E a turma desaparece no meio da multidão, cantando “me dá um dinheiro aí!”.
Daniel Cariello
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