Quem já foi rei não perde a majestade. Ontem, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu, por quatro votos a um, que o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná, não pode utilizar citações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ao ex-presidente José Sarney em investigações da Operação Lava-Jato que tramitam na primeira instância. O relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Luiz Edson Fachin, manteve decisão de Teori Zavascki, de setembro do ano passado, que havia entendido que os fatos poderiam ser analisados por Moro, mas o novo relator foi derrotado pelos pares.
Sarney não tem foro privilegiado no Supremo porque não é mais senador. Um inquérito aberto pelo Ministério Público Federal no começo deste mês apura se atuou para tentar obstruir as investigações da Lava-Jato, junto com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR). Conversas entre eles foram gravadas por Sérgio Machado, que apresentou os fatos em seu acordo de delação premiada. Sarney, porém, foi citado em outro contexto: teria pedido ajuda financeira para manter sua base no Amapá e no Maranhão. Teria recebido R$ 16,25 milhões de propina, em dinheiro vivo, pago entre 2006 e 2014; além de ter recebido mais R$ 2,25 milhões em doações oficiais, totalizando R$ 18,5 milhões. Esse fato agora só poderia ser analisado pelo STF.
Às vésperas do carnaval, o ministro Dias Toffoli, com sua interpretação vitoriosa, abriu uma avenida para os ex-presidentes da República eventualmente citados nas delações premiadas da Odebrecht ficarem na alçada da Segunda Turma do STF. A tese: já há inquérito aberto para investigar Sarney no Supremo com outros senadores; as citações feitas por Sérgio Machado estão “imbricadas” a fatos relacionados a pessoas com foro privilegiado. “Vou agir por coerência com a minha jurisdição, no sentido de acolher o primeiro pedido, de que fique sob jurisdição desta Corte”, os termos da delação de Sérgio Machado que citam Sarney.
Não será surpresa se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agarrar com as duas mãos essa possibilidade para sair da alçada de Sérgio Moro. Já fez várias tentativas. A decisão foi um duplo freio de arrumação: restringiu o poder de Sérgio Moro e mostrou a Fachin que as liminares do falecido ministro Teori Zavascki podem ser reformadas, mesmo contra a opinião do novo relator. Há ministros na Segunda Turma indicados por Sarney, Celso de Mello; Fernando Henrique Cardoso, Gilmar Mendes; Lula, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski; e Dilma, Fachin. Indicado por Collor de Mello, já enrolado na Lava-Jato, o ministro Marco Aurélio participa da Primeira Turma.
Luiz Carlos Azedo
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