terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Precisamos de uma saída de emergência

Não é novidade para ninguém que os tempos atuais estão mais amargos do que gostaríamos de saborear. No âmbito político, o núcleo duro da nossa realidade, discursos não projetam mais idealizações. Corrupção, desmandos e conluios são corrosivos e desaguam em frustrações e desencantos.

Com líderes abalados e a economia em desalinho, a confiança entra em colapso. As estruturas sociais perdem força, e aquele escapismo fundamental para sobreviver em um ambiente de pressão se esvaia. Negar nossa essência sonhadora é uma sentença de aprisionamento, que nos deixa moribundos à espera do fatídico fim. E agora, para onde olhamos quando tudo promete implodir?

Resultado de imagem para saida-de-emergencia
O tempo presente é um terreno árido, no qual o passado se apresenta como um pequeno oásis de esperança. Crises nos fazem olhar para trás com saudosismo, um refúgio de memórias, uma vida ainda com expectativas. Fantasiar nos tira da inércia, desperta um ser mais capaz e criativo às adversidades.

Esse exercício simula uma experiência curiosa, um efeito de máquina do tempo. Quantas vezes nos pegamos desejosos de uma época que nunca vivemos? Aqueles lugares que criamos em nossas cabeças a partir de recortes de jornais e histórias que ouvimos nos dão fôlego para encarar o hoje. É a inventividade salvando o ser humano da loucura do pragmatismo.

Às vezes, regredimos para fases mais ternas das nossas vidas, a infância. Ali, a inocência e a ideia de que o futuro seria um amigo caridoso nos carregam para a sensação de conforto e acolhimento. Família, amigos e as descobertas do mundo preenchem a lacuna do momento, que está vazio de sentimentos bons.

A juventude recria uma fase de possibilidades mil. Inventamos cenários, temos a audácia e a coragem para driblar os problemas e, normalmente, não pensamos no amanhã com receio. O desejo de descobrir a liberdade e experimentar o novo é combustível que nos transforma.

Viajar pelo tempo é a nossa saída de emergência, um grito de socorro que ecoa no mundo das coisas concretas. Revirar o baú de lembranças, construir projeções e desenvolver o lado lúdico são atitudes indispensáveis para estabelecer uma relação produtiva com a sociedade e o Estado. Somos ávidos pelo futuro quando o presente nos mostra um sorriso, mas fugimos dele assim que percebemos um olhar carrancudo nos observando. O passado é algo inerte, mas que movimenta o agora de todos nós.

Pedro Couto 

Nenhum comentário:

Postar um comentário