terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O país da farsa como tragédia

2017 acordou o país com um direto no queixo. Há uma semana, das biroscas aos palácios, em ampla conecção com a mídia, o assunto é a falência do sistema carcerário, que nem sequer existe plenamente como deveria.

O Brasil nunca teve penitenciária, mas depósito subumano para negros e pobres, infratores ou marginais, o que contentou a sociedade, certa de que encarceramento resolve o problema da segurança pública. Sempre se virou as costas para a questão com mais desumanidade do que a maioria dos países, em particular os democráticos, inclusive porque nunca houve no país uma lei para todos.

Os brancos e de classe mais alta, quando não privilegiados pelo sistema, foram em número infinitamente menor nas celas. Só frequentaram o cárcere por motivos políticos. Estiveram e ainda estão livres e soltos pelo foro privilegiado ou pelo apadrinhamento.

A primeira semana do ano foi gasta pela salivação inútil. Nem 60 nem 600 trucidados em presídios farão o problema prisional brasileiro ser resolvido, porque ninguém tem os dados sobre a população carcerária. Com exceção dos líderes de alta periculosidade, o restante dos presos brasileiros são massa falida.

Para manter essa população e a farsa de instituição em funcionamento, se paga muito caro. A caixa preta penitenciária só interessa ao poder político para a abastecer a máquina eleitoreira e os bolsos dos inescrupulosos brasileiros, protegidos pelas facções partidárias. 


O plano emergencial, anunciado pelo governo Temer, recebeu muito aplausos da hipocrisia. O papel do anúncio é meramente empurrar com a barriga como sempre se fez e está claro nas suas intenções. Começa-se por criar, em época de bolsos magros, novos presídios para reduzir uma suposta "superlotação", mesmo que ninguém tenha números que a comprovem. Será mais um luxo com dinheiro público para ofertar celas dignas para a elite do crime, também privilegiada, com vínculos políticos-empresariais, continuando a ralé penitenciária vivendo no cocho.

Ninguém também está levantando o custo de bloqueadores de celulares e aparelhos de checagem de objetos em revistas de visitantes. Há muito já se solucionou o problema em outros países, a custo bem menor, com a criação do parlatório com presos só falando por telefone atrás de paredes de vidro. Não há como passar armas ou celulares através de vidro. E a revista pessoal, impedindo entrada de bolsas nos presídios, não tem gastos.

Quanto a investimento em inteligência e maior segurança nas fronteiras são medidas mais velhas do que Matusalém, e já no pó há muito tempo, empurradas por seguidos governos. Compõem o plano apenas para formar "agenda positiva", essa desgraça política de quem não tem interesse algum em resolver o problema.

A grande questão neste acordar de novo ano é que a cara do Brasil não mudou. Os problemas são os mesmos, as "soluções" repetitivas e nenhuma vontade de mexer nos vespeiros político-administrativos. A atual "crise" nas penitenciárias é mais uma que vem e que passará, porque o Brasil não quer mudar, ou os governos e Poderes estão bem, obrigado, para suplício dos que neles não vivem.
Luiz Gadelha

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