O nomeado para a função de coordenar as atividades de ciência, tecnologia e inovação também exibe credenciais de gestão de empresas privadas nos setores de agroindústria, imobiliário e entretenimento, bem como de administração pública de políticas de infraestrutura de Alagoas. O time ficou completo com a posse para a área de recursos humanos do SUS de outro engenheiro e administrador de empresas. Este último atuou no ramo de automotores, logística e atividades agrícolas e na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura. Declarações do ministro, seguidas por desmentidos, sobre o exagerado tamanho do SUS e o uso excessivo de serviços de saúde pela população, especialmente pelas mulheres, tiveram efeito bumerangue. Exorbitante é querer diminuir as proporções das necessidades de atenção e do SUS, quando todas as pesquisas de opinião indicam a saúde como o principal problema para a população.
Em meio às polêmicas ruidosas, boatos sobre cai, não cai, a esquadra de especialistas em outras áreas pôs em marcha os trâmites para a comercialização de planos baratos. Convocaram um grupo de trabalho composto por órgãos governamentais e pela entidade que representa as operadoras e encomendaram um parecer sobre mudanças nas regras do ressarcimento ao SUS. As duas peças encaixadas redesenham o sistema de saúde, o SUS encolhe e empresta para os planos sua rede pública. Com a oficialização da dupla porta, o atendimento para clientes de planos baratos fica com cara de privado e corpo público. Se contar, ninguém acredita, porém, a desmedida, tornar o SUS um ativo a ser transferido para empresas privadas, foi anunciada como “solução única” para a saída da crise. Se não têm emprego, nem renda, comprem plano privado de saúde, para ao fim e ao cabo ficar no SUS, mas garantir e aumentar receitas das operadoras. O estilo Maria Antonieta chocou a galera, mas agradou a setores empresariais.
Do lado de fora das salas fechadas, nas eleições em cidades às voltas com problemas muito concretos para a obtenção de assistência de qualidade no SUS, que afetam pobres, remediados e ricos, não se promete plano privado barato. Os candidatos defendem programas invariavelmente voltados a melhorar e ampliar o SUS. Retrocesso, a perda dos insuficientes, mas essenciais, avanços de acesso à saúde não consta da dieta de quem precisa de voto. A solicitação de sacrifícios de reputação para aprovação de restrições adicionais de recursos para a Saúde e a Educação, o ajuste radical, previsto pela PEC 241, tem sido sutilmente rejeitada por parlamentares. A personificação do descrédito na saúde pública em uma autoridade governamental, completamente aderida aos empresários e caótica nas presunções sobre relação aos riscos e agravos e doenças, esquenta a chapa do sofrimento social. Um ministro da Saúde pública, porta-voz de planos privados, parece condensar em si o maior dos exageros. O SUS está de bom tamanho, cabe no Brasil do presente e precisa crescer no futuro. Desproporcional é a terceirização de um ministro para o setor privado.
Ligia Bahia
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