Graham Franciose |
Caros pessimistas e negativistas, confesso que relutei em escrever esta missiva. O fiz escondido, pois sinto que estou cercado de pessimistas de todos os lados. Até na família há certo ar de crítica quando deixo escapar um discreto “prevejo uma melhora em médio prazo...”
Sim, é certo que as más notícias dão um baita ibope. Adoramos uma tragédia, nem que seja para soltar o inevitável “coitadinho!”. Mas o que gostaria de conversar com vocês, pessimistas queridos, é sobre esse clima de fim de festa, algo apocalíptico. E o que é pior (ou seria melhor ?) é que estou cheio de notícias boas e temo retransmiti-las e ser vítima de bullying ou cair no descrédito. O clima está tão pesado para nós, otimistas, que quem falar um “bom dia” entusiasmado, em alto e bom som, no elevador, em plena segunda-feira, periga levar vaia ou ouvir “não vai ter golpe!” E olha que estudos mostram que o sorriso em público é altamente terapêutico. Tenho diletos amigos que se ofendem quando alerto para essa visão distorcida, para o negativo, o sombrio, o pessimismo. Eles me olham de forma quase hostil e dizem “sou realista, e você, um romântico platônico”. Meus queridos, pensar o pior é optar por mau humor, revolta, ressentimentos e mágoas. Reclamar adoece, afasta, envelhece.
Algo como acelerar em ponto morto: gasta energia sem sair do lugar. Imagina um dia calorento, abafado, você em um ponto de ônibus e alguém dizendo “que calor, ô vida de cão, só falta atrasar e chegar lotado”. Sem dúvida a sensação de calor aumentará uns 10°C, e, além de tudo, o engarrafamento será do cão! Palavra tem poder...
Mas, se te escrevo, é porque tenho esperança de te encontrar sereno o suficiente para que me dê um minuto do seu tempo. Pessimismo tem cura!
Não é nada de autoajuda nem milagres de aplicativos de internet ou pega bobo de marketing de rede. Nem coisa de otimista inveterado ou cristão deslumbrado.
É avanço da ciência. Larga teu ceticismo e acompanhe o raciocínio: há uma imensa novidade no entendimento do cérebro. Ao contrário do que sempre se pensou, esse complexo e divino órgão, gestor de todas as funções físicas e psíquicas, não é rígido nem inflexível. É ágil, moldável; enfim, plástico. A cada segundo, se constrói e reconstrói. Muda, adapta, se reinventa. Tanto para uma função psicomotora quanto para um novo conceito, que pode mudar sua consciência e, assim, seu comportamento e forma de viver e conviver consigo e com o mundo que o cerca. Fantástico, não acha?!
OK, não acredita, não entendeu ou não quer nem saber. Prefere achar o mundo uma desgraça, o trabalho uma lástima, a família um tormento, a vida uma cruz. Ah! Meu amigo pessimista, até seu negativismo é perfeitamente explicado por essas novas descobertas: você é um viciado em “pensar errado”! Ah, se pudesse fazer um exame, como tomografia funcional, talvez percebesse neurônios e seus terminais em um nó cego, nos seus pre-conceitos, centro de culpa, de punição, desprazer.
Eu te entendo, seu arbítrio é sofrer, você quer ser reconhecido como vítima, masoquista, eterno insatisfeito. Te compreendo, mas não concordo com você. Como te amo e a todos os negativistas que me cercam, doarei sempre o meu sorriso, os meus “bons dias” e a eterna esperança de que, um dia, a paz de espírito, a serenidade, a alegria e o amor morem em teu coração.
Com carinho, seu otimista de plantão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário