Acidentes ocorrem por falhas humanas e de equipamentos. E as circunstâncias para o voo 3054 eram totalmente desfavoráveis: chovia, a pista estava escorregadia, faltavam ranhuras para produzir mais atrito entre as rodas e o chão e evitar derrapagens.
Havia outros agravantes: 10 meses antes, um acidente envolvendo um Boeing da Gol, escancarou uma crise no sistema aéreo do país que obrigou o Congresso Nacional a criar a CPI do Apagão Aéreo. Houve greve e prisão de controladores de voo, a falta de comando do governo ficou evidente e o despreparo das companhias parece ter se tornado constante.
Na época, dirigentes sindicais, pilotos e comissários declararam que o acidente “não deve e não pode ser visto como uma fatalidade e sim como um resultado do descaso das autoridades, na regulação e na fiscalização do setor aéreo, e da corrida das empresas do setor por redução de custos”.
Lula, então presidente da República, se omitiu e demorou 73 horas para se dirigir a nação e falar sobre o acidente.
Passados nove anos, o que mudou?
É mais do que evidente que não muita coisa. Na época da tragédia do Airbus da TAM, o governo Lula, numa operação de puro marketing, anunciou mundos e fundos. Que seria construído um terceiro aeroporto em São Paulo, que faria expansões e tantas outras medidas. A maioria não saiu do papel.
Nestes nove anos os aeroportos acumularam problemas.
Movido por seu ranço estatista, o governo Dilma Rousseff pouco avançou nas privatizações que poderiam levar à modernização da infraestrutura aeroportuária.
Em qualquer lugar do planeta, os investidores empregam seu capital onde estejam asseguradas duas condições: regras claras e possibilidade de retorno do investimento.
Um dos graves erros do governo Dilma foi querer definir por decreto taxas de retorno nas concessões, além de impor, em muitos casos, um sócio compulsório aos investidores: o Estado. No caso das privatizações dos aeroportos, a Infraero se transformou em sócio incômodo e, para agravar, o governo mudava as regras do jogo a toda hora.
Tudo isso para não falar na falta de investimentos na integração destes aeroportos com um sistema de transportes urbanos confortável, capaz de prestar serviços de qualidade aos brasileiros e aos milhões de turistas que virão ao Brasil para assistir as Olimpíadas.
Com a crise econômica, as turbulências no setor aéreo recrudesceram. Desequilibradas, as empresas aéreas adotaram medidas duras: corte de rotas e de número de voos, revisões e adiamentos da chegada de novos aviões já comprados, demissões e fim de licenças remuneradas a pilotos.
A lista de problemas está longe de chegar ao fim. Após mudanças das normas de inspeção impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil-ANAC, nesta terça feira, passageiros foram obrigados a enfrentar filas enormes. Remarcaram voos ou simplesmente perderam suas viagens, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Caos renovado nos aeroportos brasileiros.
Sem informações, treinamento e o devido aumento de funcionários ou de postos de controle na inspeção, a única recomendação das autoridades foi a de que os passageiros deveriam chegar com mais de duas horas de antecedência de seus voos. E os que seguiram o conselho à risca e madrugaram em Congonhas e no Santos Dumont encontraram balcões vazios, já que o atendimento das companhias aéreas não recebeu as mesmas instruções.
Passados nove anos da tragédia que não podemos, não queremos e nem temos o direito de esquecer, a infraestrutura e os procedimentos para o transporte aéreo de passageiros continuam na pré-história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário