Qualquer um que leia jornal, ouça rádio ou assista à televisão está, com certeza, apavorado com o aumento da violência no Brasil. Assim como não se passa um dia sem novo desdobramento da operação Lava Jato, também não há instante algum em que não se depare com um caso de violência contra mulheres, furtos, roubos e homicídios, praticados inclusive por menores, ou contra estes. Cresce o tráfico de drogas nas cidades – e não apenas nas grandes.
No curto período em que fui secretária executiva do Ministério do Trabalho e Emprego, no primeiro governo Lula, escutei relato que, à época, me espantou: o então secretário do Trabalho no Rio de Janeiro me confessou sua impotência para desenvolver um programa estadual de primeiro emprego porque a verba de que dispunha significava apenas poder oferecer R$ 150 a um jovem, enquanto o tráfico lhe dava facilmente R$ 1.000.
Leio agora no excelente “Cadernos IHU”, da Unisinos, instigante texto do professor Luis Flávio Sapori, publicado no dia 8 do corrente mês, o qual recomendo a quem se preocupa com o tema. Apenas gostaria de acrescentar, ao que ele aponta, a crítica que muitas pessoas fazem aos governos do PT sobre o fato de que toda a inclusão social promovida se deu pela via do consumo individual, e não pelo provimento de equipamentos sociais.
Todos devem se recordar de Lula, gabola, afirmando que tudo que o operário quer é ter seu carrinho e poder tomar sua cervejinha no fim de semana. Dilma foi pelo mesmo caminho. Hoje, aponta o professor Sapori, até casas do programa Minha Casa, Minha Vida entraram na rota dos traficantes. Equipamentos de uso coletivo, certamente, não produziriam essa consequência nefasta do estímulo ao consumismo que aparece como responsável pelo aumento do tráfico em várias partes do país. O adolescente que quer ter objetos de consumo individual – que vão desde o tênis de marca até eletroeletrônicos, e mesmo carro ou moto – faz do ganho que logra com o tráfico manter-se como usuário de droga e como indivíduo consumista. Então, segundo o professor, não se pode mais afirmar que a violência é fruto apenas da miséria em que vivem as pessoas.
Dá, então, para prever como esse quadro vai se agravar com a aplicação do ajuste fiscal. Acrescente-se a isso a herança maldita das obras das Olimpíadas no Rio, como de resto já vem acontecendo com as inúmeras arenas, padrão Fifa, que a Copa do Mundo de 2014 gerou país afora.
Além disso, causa um impacto grande na cabeça de todo mundo o conhecimento dos milhares de crimes resultantes do entrelaçamento entre empreiteiras (mas não apenas estas) e os políticos. E também não se pode esquecer o lucro exorbitante dos bancos em confronto com o endividamento generalizado das famílias.
No geral, o que se pode constatar é que os tempos andam pesados para todo lado: não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro, passa por uma crise moral que só tem precedência em momentos históricos graves: o fim do império ateniense, o fim do Império Romano e as duas guerras mundiais. Como tudo isso dói!
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