De fato, não se reverte instantaneamente um quadro de caos econômico, como o legado pelo PT, nem é possível fazê-lo sem medidas impopulares. O novo presidente estaria, portanto, fadado ao insucesso, o que abriria espaço para o retorno da velha (des)ordem.
Faltou, porém, considerar um detalhe: a Lava Jato. Enquanto o Senado consumia semanas repetindo o rito já aprovado na Câmara – a admissibilidade do processo -, e na sequência ouvindo nada menos que 40 testemunhas, a turma de Curitiba colhia mais e mais delações comprometedoras, que viriam (estão vindo) à tona antes da votação final. O tempo, ao contrário do desejado, trabalha contra.
Estão em curso, entre outras, delações da diretoria da Odebrecht, que confirmam a origem criminosa de recursos eleitorais e não eleitorais, envolvendo Lula e a própria Dilma, pela primeira vez citada diretamente – e pelo próprio dono da empresa. A íntegra dessas delações ainda virá à tona, mas a prévia já é demolidora.
Esta semana, mais uma bomba veio de Curitiba: o depoimento do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Eles confirmaram ter recebido 4,5 milhões de dólares, de caixa dois, da campanha de Dilma. A confissão somou-se à do operador Zwi Skornicki, de que se tratava de dinheiro roubado da Petrobras, pago a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Pior: estava depositado em conta no exterior. Bastam esses dois fatos, capitulados como crimes pela legislação eleitoral, para que o próprio registro partidário do PT seja cassado.
Dilma, como responsável pela campanha, pode até alegar que não sabia (inclusive, já o fez), mas não adiantará nada. A lei é implacável: o candidato é responsável pela campanha. O ex-senador Eduardo Azeredo, candidato tucano ao governo de Minas em 1998, fez a mesma alegação, diante de fatos análogos, e foi condenado a 20 anos de prisão – aliás, sob os aplausos do PT.
A diferença é que Azeredo foi derrotado e Dilma elegeu-se. O caso dele, portanto, esgotou-se nele. Já o caso Dilma a pega no curso do mandato, interrompido por razões bem mais amenas, e terá repercussão na votação final do impeachment.
O processo no Senado, graças a Eduardo Cunha, atém-se a delitos apenas administrativos, os tais crimes de responsabilidade. Mas o prontuário, como as delações premiadas e a Lava Jato têm mostrado, é bem maior e invade a esfera do Código Penal.
Cunha poupou a presidente do pior – não por amor, é claro, mas por medo de alguma bala perdida o atingir. Afinal, foi parceiro, ainda que menor, na rapina da Petrobras.
Escolheu o pedido de impeachment mais brando, mas é improvável que os senadores deixem de considerar o conjunto da obra na hora de votar. Os ainda indecisos (se é que os há) dificilmente ousarão afrontar os fatos, de pleno conhecimento do público, na hora de definir seu voto, que será aberto e transmitido pela TV. O julgamento será no final de agosto, lá pelo dia 26.
Até lá, novas delações virão à tona, novas prisões devem ocorrer, não se excluindo a hipótese da do próprio Lula.
Outro efeito colateral adverso do adiamento do impeachment são as eleições de outubro, que este ano terão praticamente um mês apenas de campanha. A dura exposição da administração petista, sobretudo a ilegalidade de algumas de suas práticas, irão repercutir fortemente no eleitorado.
O recurso terrorista ao fim do Bolsa Família, na hipótese de vitória do adversário, já não terá a eficácia de antes. Ele mudou de mãos – e Temer, não obstante os conselhos de sua equipe econômica, acaba de conceder-lhe aumento de 12,5%.
O único risco que Temer corre deriva dele próprio, se insistir em nomear para sua equipe gente carimbada por atos praticados na gestão de sua antecessora.
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