sábado, 23 de julho de 2016

A nação precisa de um tempo para se refazer do legado lulopetista

Aos poucos, vão sendo recolhidos os escombros deixados pelo lulopetismo, que pode retornar. Um dos males está na reeleição, tal como implantada no Brasil. Ao menos, que se adotasse o critério norte-americano: quem, por dois mandatos, recebeu a maior honraria nacional deve afastar-se para sempre da luta política para servir de reserva do país, numa espécie de conselho informal da nação, nos momentos mais difíceis de sua caminhada histórica.

Aliás, nem mesmo o regime militar cogitou da reeleição, no interesse próprio de não provocar uma ruptura, no âmbito das ambições presidenciais, e, afinal, cair no cisma e na própria derrubada. Logo, do ponto de vista do proveito da aliança militar-tecnocrática-empresarial, que abominava a democracia representativa e o Estado de direito, havia coerência no repúdio à reeleição. Naquele esquema, essa peça, conquanto ameaçasse o pacto, costumava aflorar, sob o argumento de endurecer ainda mais o regime estabelecido.

Ademais, sabiamente os norte-americanos mostraram-se prudentes em analisar as distorções suscitadas pelo instituto da reeleição, sem limite no tempo, mesmo para um povo amadurecido pela dinâmica de uma democracia política já praticada há muito tempo. Quando o grande presidente Roosevelt recebeu o quarto mandato, as lideranças congressuais, assustadas com o fato, embora justificado pelos duros tempos de guerra enfrentados, cuidaram logo de revogar o permissivo constitucional que tolerava reeleições sucessivas e ilimitadas para, por meio de emenda à Constituição, restringi-las apenas ao segundo mandato.

Aliás, a história sempre ensina. Entre nós, e imprudentemente, a emenda constitucional ao texto promulgado em 1988, aprovada na ânsia ilusória de manter o PSDB pelo menos 20 anos no poder, silencia sobre a questão, o que significa consentir reeleições teoricamente sem limites, quando, entre estas, se cumpra pelo menos um mandato de outro concorrente.

Em outras palavras, reeleito uma vez, o ex-presidente não pode retornar ao cargo. Não sendo assim, os sábios do PSDB poderão ter de competir com o ex-presidente Lula em 2018. Enfatizo o comentário porque considero o sr. Lula e seu partido o maior mal que ameaça o Brasil em futuro próximo.

No quadro de absoluta ausência de lideranças políticas, até o deputado Eduardo Cunha pode renascer e quiçá voltar a presidir a Câmara dos Deputados. Está na rota das obviedades, considerando o sistema eleitoral e partidário que temos e o fácil esquecimento do corpo eleitoral dos profundos danos causados por mandatários infiéis; portanto, não surpreenderá os mais experimentados que o populismo, a incompetência e a mentira dos deslocados do poder retomem o espaço central de que se julgaram donos.

Sou realista: o campo poderá estar aberto para o narcisista Lula. Sua intensa movimentação coincide com o desejo perverso de voltar. Não creio que dele venha qualquer gesto de trégua. Nossa cambiante história é testemunha da persistência desse político cujo verdadeiro compromisso é com a satisfação de seu apetite pela manipulação do poder. Daí, não admitirá qualquer indenização pelos estragos feitos por si e por sua despreparada e incompetente sucessora. Arrasaram o país, que só ressuscitará das cinzas com um “risorgimento”. Enquanto isso, Lula, com os defeitos psíquicos, despreza os adversários. Se aparecerem, serão esmagados. É a lógica da ideologia: o primado é deles (o líder incontestável e seu partido); ao resto, a zurrapa.

Impõe-se evitar a tragédia.

Márcio Garcia Vilela

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