Sem rodeios: um governo que aposta na omissão como única hipótese de não ser derrotado e que sem qualquer escrúpulo compra a peso de ouro a ausência de parlamentares em sessão de votação, inexiste. Acabou. E há tempos.
Objetivamente, Dilma sempre foi um desastre.
Dilma se reelegeu depois de, com mentiras e artimanhas, fazer o diabo. Muita mentira, reconhecida até pelo seu inventor. “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”, admitiu Lula, em outubro do ano passado.
O governo que já era uma catástrofe conseguiu quase o impossível: piorar. E muito mais.
Em 2015, Dilma fingiu tentar um ajuste fiscal que, por oposição do PT e aliados, pouco saiu do papel. Ainda assim, é ao ajuste fiscal que não existiu – basta olhar o descalabro das contas governamentais -- que Dilma, Lula e o PT atribuem o insucesso do primeiro ano do segundo mandato. Ao ajuste necessário que Dilma não fez, soma-se a Operação Lava Jato, que, de acordo com a inteligência bandida de Lula, emperra o crescimento do país, como se o investigador, e não o meliante, fosse o culpado pelo crime.
E o ano de 2016 não começou. Há meses o impeachment é pauta única. Para evitá-lo, o governo tentou de tudo: comprar deputados com cargos e verbas, incentivar exércitos de movimentos sociais, judicializar até as vírgulas. E, de acordo com a colunista Dora Kramer, pode até decretar Estado de Defesa para valorizar a posição de vítima.
Papel predileto sempre que se veem encurralados, as “vítimas” Dilma, Lula e PT não devem parar por aí. Já fazem correr aos quatro cantos que, se derrotados, vão incendiar o país. Lula garantiu que não sairá das ruas e não dará trégua a Temer. “Não estaremos nessa de união nacional, não vamos colaborar”. Nada de novo, já que nunca colaborou. O PT e ele não assinaram a Constituição de 1988, ajudaram a destituir Collor e viraram as costas para Itamar Franco, demonizaram o Plano Real.
Até aqui, o governo experimentou diferentes adaptações de discursos. Primeiro, taxou a previsão constitucional de impeachment como golpe. Mudou o tom depois de o STF negar a existência de artigos golpistas na Constituição. Passou então a acrescentar a ausência de crime para subsidiar o impedimento. Agora, anuncia que um governo do vice seria ilegítimo, por não vir das urnas, brigando de novo com a Constituição que prevê o vice como substituto do titular.
Os governistas que restam ainda tentam faturar com a impopularidade do deputado Eduardo Cunha, enrolado até acima do pescoço em bandidagens de vários matizes.
Vendem a ideia de que o impeachment é vingança de Cunha, escamoteando o fato de que o rito foi ditado e referendado pela Suprema Corte. E, sem pudor, inventam o cerne do “golpe”: Cunha mancomunou-se com Michel Temer porque na linha sucessória o presidente da Câmara é vice e, portanto, pode vir a substituir Temer. Fazem de conta que não sabem que, desde que se tornou réu, Cunha não pode assumir a Presidência da República.
Põem fogo nos “nem-nem”, que, ao rejeitar Dilma, Temer e Cunha, negariam votos ao impeachment e evitariam a derrota da presidente. Podem até obter sucesso. Mas o resultado pífio da votação, com menos de um terço da Câmara, associado à incapacidade, inépcia e incompetência demonstradas nos últimos anos, inviabilizam por completo Dilma como mandatária.
Aprovado, o impeachment só oficializa algo que há tempos o país já vive: o fim de um governo que não existe.
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