Em segundo lugar, porque, ao não esboçar a mínima repreensão quando líderes como Vagner Freitas (da CUT) e Aristides Santos (da Contag) falam – em pleno Palácio do Planalto! – em “armas na mão” e em “ocupar gabinetes” de deputados, Dilma mostra que consente com o uso dos “movimentos sociais” – que são, na verdade, entidades-satélites do petismo – e com sua retórica violenta, demonstrando o desapreço do petismo pelas instituições. É isso que faz Lula afirmar que, caso Dilma perca na Câmara e seja eventualmente afastada pelo Senado, não sairá mais das ruas contra o que chama de “governo ilegítimo”. O Brasil não pode se intimidar, não pode deixar de fazer a coisa certa por causa de ameaças e bravatas de quem só dá valor às instituições quando elas estão a serviço de um partido político.
E isso nos leva ao terceiro ponto: a derrota do impeachment neste domingo será a confirmação de um modo abjeto de fazer política, em que mandatários e parlamentares enxergam cargos e órgãos públicos como propriedade particular. Se o feirão organizado por Dilma se tornar o fator decisivo para que a votação deste domingo termine em favor da presidente, a esperança de uma moralização da política sofrerá um enorme abalo. Se a impunidade prevalecer, os deputados estarão dizendo ao Brasil que o crime compensa – basta comprar as pessoas certas, ou se vender às pessoas certas, contando que a memória curta do brasileiro lhes garantirá uma “absolvição” nas urnas, seja em outubro próximo, quando vários parlamentares tentarão se tornar prefeitos, seja em 2018, quando eles tentarão a reeleição ou outros cargos.
A votação deste domingo não será a definitiva – ainda que prevaleça o impeachment, será preciso que o Senado promova o julgamento –, mas é decisiva, porque será um indicativo de nosso grau de tolerância. Sabemos que muitos votarão pelo impeachment guiados mais por conveniência que por convicção. Sabemos que o Congresso é comandado por duas figuras indignas até mesmo de exercer mandato, quanto mais de presidir casas legislativas. Mas, se temos de um lado da balança um impeachment justo conduzido por maus políticos, do outro a alternativa é aceitar o estabelecimento da corrupção sistemática dentro do governo, premiar o toma-lá-dá-cá, fechar de vez os olhos à manipulação das contas públicas, resignar-se à condição de reféns das ameaças de CUT e MST. Isso não podemos tolerar de forma alguma.
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