A ironia está em que, nem diante dos generais-presidentes, de Costa e Silva a Médici e a Figueiredo, Delfim ousou tanto. Pensava como pensa hoje, ou seja, em favor dos interesses do empresariado mais retrógrado, mas não tinha coragem de enfrentar os pruridos nacionalizantes dos militares. Era obstado por eles, os verdadeiros donos do poder, sem condições para implementar todas as mudanças exigidas pelo mundo neoliberal, ainda que tentasse cumprir essas determinações. Agora, para Delfim, liberou geral, ainda que atrasado, do alto de seus 85 anos. Integrou-se sem temores na defesa do modelo que domina o planeta, aproveitando-se da débâcle dos governos do PT. Admite-se até que esteja se vingando dos companheiros que um dia bateram firme em suas diretrizes, antes de o Lula haver aderido ao neoliberalismo e de Madame mostrar-se sem rumo diante da pressão das elites.
As quatro imposições passadas a Dilma através do Lula, mais do que a demolição das poucas estruturas sociais conquistadas ao longo dos anos, de Getulio Vargas em diante, significam o fim de uma era de expectativas sobre a ilusão de que a Humanidade caminha para a frente. Faz tempo que anda de marcha-a-ré, mas por força da supremacia dos ricos e poderosos, desfaz-se o sonho de um mundo mais justo e equânime.
Por coincidência, no Brasil, isso acontece por obra e graça do governo do PT, da traição do Lula e da perplexidade da Dilma. Parece óbvio que ela vai ceder, que carece de forças para resistir ao ímpeto do egoísmo dos controladores da economia e das finanças. Por mais estranho que pareça, o golpe de graça no pescoço das massas acaba de ser vibrado pela lâmina do Delfim.
Vale repetir, há quem imagine a presidente Dilma resistindo, não se curvando à derradeira exigência das falsas reformas que só estenderão privilégios, benefícios e vantagens aos mesmos de sempre. Como falta, como sempre faltou a ela, discernimento para saber de que lado se posicionar, o provável é que não reassuma mesmo a presidência da República. Esta permanece ocupada pelo Delfim…
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