Pelo menos pelos próximos anos, sejam eles quatro ou oito. Mas os humoristas viveram a ilusão de que haviam encontrado fonte inesgotável, incomparável, inestimável, de matéria prima.
Alegria de humorista dura pouco. De matéria prima, ela rapidamente tornou-se personagem. Dispensou a intermediação de humoristas, cartunistas, ou profissionais da sátira. Passou (ou talvez apenas tenha continuado) a oferecer o ridículo a granel, a todos, sem necessidade de intermediação, interpretação ou caricatura. Passou de inspiração a concorrente. A piada já vem pronta. O gosto, duvidoso.
Respingam de sua boca palavras sem nexo, pensamentos ininteligíveis, ideias desconexas. Tudo empacotado por linguagem confusa, cheia de erros. Onde concordância é coisa renegada ao ostracismo. E o português, pobre, tratado a pontapés.
Os mais realistas se envergonham. É duro admitir que ela nos representasse. Que nos governa. Nem Garcia Márquez poderia ter criado caricatura semelhante. O realismo, ali, é mais do que fantástico. Vai do inaceitável ao inacreditável.
Com muita forca, sua chegada ao topo pode trazer uma réstia de esperança. O nível ficou tão baixo que as oportunidades não mais dependeriam de qualificação. Ou de qualquer critério que exija competência, clareza, coerência, ou simples capacidade de comunicação. Se ela foi eleita e (pior!) reeleita, isto quer dizer que qualquer um pode chegar lá. Qualquer um mesmo.
O problema é que governar é coisa séria. Traz consequências, impactos e repercussões. E ser governado por uma piada é perigoso. Em todos os sentidos.
Poderia abreviar o sofrimento. Poupar os ouvidos. Afagar nossa inteligência. Bastava renunciar. Se tornar ausente. Ir embora. Nem os humoristas lamentariam. Mas ela não quer. Mas ela não vai. É duro.
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