Ao completar 70 anos, amanhã, pode o Lula considerar-se na plenitude de sua capacidade para realizar o Bem ou o Mal? Como já se dedicou a ambos os objetivos, ora atendendo os pobres e os necessitados, ora privilegiando os ricos e os vigaristas, continua em aberto a possibilidade dele tentar voltar ao palácio do Planalto. Não se diz voltar ao poder porque deste jamais se afastou, tanto controlando o PT quanto interferindo no governo Dilma. Muita gente considera inviável o retorno do ex-presidente, dado o desgaste do partido dos companheiros e o fracasso hoje evidente da administração da sucessora. Madame deixou de ser a esperança de continuidade de um período ao menos em parte voltado para os menos favorecidos. Transformou-se em instrumento fisiológico de uma base parlamentar ávida de sinecuras e favores variados. Atende sugestões esparsas do antecessor, mas permanece a maior parte do tempo lambuzando o país de incompetência.
Caso decida ou não possa evitar candidatar-se em 2018, o Lula carregará o fracasso da Dilma. Talvez o peso venha a ser demasiado para obter a vitória, como revelam as pesquisas atuais. Nessa hipótese, precisará encontrar quem o substitua como candidato, mas quem? Nos quadros do PT a safra revela-se decepcionante. Jacques Wagner, Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini? Não dá. Será o ex-presidente obrigado a aceitar o encargo, por falta de alternativas? Mas, se perder, não estará acionando a pá-de-cal na aventura um dia saudada como capaz de mudar o Brasil? Apoiar um candidato de origem diversa, tipo Ciro Gomes, será um risco, mas pior seria aceitar Michel Temer, do PMDB.
Nesse cipoal encontra-se o ex-torneiro-mecânico, ao completar 70 anos. Desejando ou não retornar, quando tiver 73, sua candidatura será um imperativo de sobrevivência, não apenas pessoal, mas do movimento que criou. Só que obstáculos levantam-se de todos os lados. As acusações de haver-se tornado milionário, envolvendo também sua família. Relações pouco claras com empreiteiros hoje morando na cadeia. O desgaste natural da idade. A falta de renovação no próprio partido. O distanciamento da classe operária, atualmente órfã de lideranças em condições de reivindicar melhores condições de vida e de trabalho. E mais o desemprego crescente, o aumento de impostos, taxas e tarifas, a redução de direitos sociais, a queda nos índices de crescimento econômico e a inflação.
O diabo é que, mesmo enfrentando tamanha carga negativa, o Lula poderá não encontrar argumentos para recusar a candidatura. Arriscado a enfrentar a derrota, não lhe será possível saltar de banda.
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