Enquanto isso, começamos a acordar que o Estado – das prefeituras à presidência da República – não é pai do povo, é seu filho e deve ser vigiado. Quem trabalha sustenta o Estado, recebendo serviços públicos de filho ingrato.
Recape, por exemplo, recupera mas não melhora rua, que apenas volta a ser a velha rua para trânsito sempre crescente, com transporte público sempre precário. Até que muitas ruas voltem a ser, como nos mapas antigos, apenas “vias carroçáveis”, onde só carroças conseguirão transitar.
Não, não as carroças do Collor, movidas a cavalos-vapor; mas carroças com cavalo e carroceiro, que a cidade foi enxotando para a periferia mas, enfim, voltarão vitoriosas. Passarão pelos buracos e destroços levando jardineiros, vendedores de víveres, disquentregas e até roça-táxis.
Caminharemos – ou trotaremos – para a Era da Carroça.
O prefeito será um carroceiro com mestrado em Oxfordê.
A toda poderosa ABC, Associação Brasileira dos Carroceiros, bancará candidato à presidência da República por uma coligação-carroção de muitos partidos.
Aquele Rolls-Royce da Presidência será trocado por uma carruagem de museu com cavalaria das Forças Armadas.
A AIC, Associação Internacional da Carroagem, arrebatará a diretoria da Fifa, da Onu e, de quebra, do FMI.
A indústria automobilística lançará carroçarros, carroças movidas a motor, nos bairros ricos ou rebeldes com asfalto, e movidas a cavalo nos bairros pobres ou resignados. Estacionamentos terão baias para cavalos, e o quadro de maior sucesso na tevê será A Carroça da Sorte, com um carroção distribuindo prêmios pelo país.
E as pessoas passarão a nascer aC ou dC, antes ou depois da Era das Carroças.
A Seleção ganhará a Copa, e o time desfilará no Carroção dos Bombeiros.
Isto, claro, se antes não acharem um jeito de recuperar não só algumas, mas todas nossas ruas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário