sábado, 5 de setembro de 2015

Dilma carrega a falência do 'Modelo Lula' de crescimento

Roberto Mangabeira Unger, ministro-chefe de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, disse à Folha que o modelo Lula estava falido: porque, referiu fundado em “ampliação de consumo, renda popular e exportação de commodities”.

Não quero cair a esparrela do Eterno Retorno, de Nietzsche, nem naquela teoria do Napolitano Gimbattista Vico, pai da ideia de que ciclos históricos se repetem.

Quando o dólar explodiu, em julho de 2002, falava-se que era culpa do Lula por conta do efeito eleição. Naquela época se tinha medo de investir aqui porque ninguém sabia quem Lula era: hoje se tem medo de investir aqui porque todos sabem quem Lula e Dilma são.

Quero lembrar de uma passagem daquela metade de 2002, quando o dólar bombava mais que hoje: o economista Rudiger Dornbusch, professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), morto em junho daquele ano, aos 60 anos, em sua casa, em Washington.

Destacou-se por ter previsto a crise mexicana, em novembro de 1994, quando da desvalorização do peso mexicano. Em seu obituário, três grandes jornais brasileiros destacaram uma frase sua, de 1998, um ano antes da desvalorização cambial brasileira. Dornbusch referiu que o FMI (Fundo Monetário Internacional) não deveria colocar dinheiro no Brasil para evitar uma crise. “Quando o Brasil ligar, apenas deixe o telefone tocar. Diga que nossos operadores estão ocupados”.

O mesmo ocorre hoje.

Brasil era lixo porque ninguém imaginava o que seríamos sob Lula: continuamos lixo porque todos sabem o que somos sob Dilma. Não espanta que o profeta apocalíptico, o demencial epígono disso tudo, seja José de Abreu: cujo papel de maior destaque (destacável) foi o de um administrador de lixão. A vida imita a ficção, bagaray.

Vejam vocês: na segunda semana de agosto passado, numa coletiva de imprensa, o chefe do Pentágono, Ashton Carter, chamou a Rússia de uma “ameaça muito, muito significativa”.

A frase marca a nova Guerra Fria.

Guerra e consumo

Essa nova Guerra Fria impulsiona a economia dos EUA, diz a história.

A tecnologia reduz o tempo de produção. E quando não há mercado para escoar esse excedente? A saída é promover invasões para lastrear o encalhe. No governo Clinton, a secretária norte-americana Madeleine Albright comemorou a invasão do Kossovo, a partir de abril de 1999, como a criação de um “novo mercado de escoamento da produção dos EUA”. Bush repetiu a dose invadindo o Iraque.

Uma boa explicação dessa economia de guerra está no livro “Le bonheur economique”, de François-Xavier Chevallier (Albin Michel, 1998, Paris). Ele se baseia nas teorias dos “Ciclos”, do economista russo Kondratieff. Para o economista, avanço tecnológico e redução de tempo de produção resultam em guerras para lastrear a produção encalhada pela redução de seu tempo de produção.

A Revolução Industrial gerou, a partir de 1783, segundo o economista, o crack na Bolsa de Londres e a Revolução de 1830. A introdução da química do ferro, a partir de 1837, a Revolução de 1848, a Guerra de Secessão nos EUA, o crack de Viena. A química pesada, no início do século 20, a primeira Guerra Mundial, o crack de 1929 em Nova Iorque e a Revolução Tenentista, de 1930 no Brasil. A Crise do Petróleo, em 1973, teria potencializado a última fase da Guerra do Vietnã.

Nessa escalada, a tecnologia informática e a bioquímica teriam gerado o fim da URSS, as guerras localizadas, como o Kosovo, e o crack das economias do Terceiro Mundo, e a invasão do Afeganistão e do Iraque. Vejamos a prova disso: ao final da Segunda Guerra, a produção industrial dos EUA cresceu 60%, o produto bruto nacional 90% e o número de desempregados caiu para apenas 500 mil em todo o país. Kondratieff diz que tais ciclos de renovação pela tecnologia acontecem a cada 70 anos. 


E o Brasil? Nada a declarar. Nossa política econômica agora não tem mais um rosto. Já teve. Nos anos 20 do século passado, tínhamos a visão do país cordial, eterno exportador agrícola. Era o país que um Oliveira Vianna “via embranquecer-se”, na frase do ex-ministro Bresser Pereira. Nos anos 50, surge o pessoal do Iseb, Helio Jaguaribe, aparece Roland Corbusier, e o genial comunista Nelson Werneck Sodré. Todos metendo porrada na visão do Brasil eternamente exportador de matérias-primas, e propondo a industrialização a qualquer custo.

A partir de 31 de março de 1964, surge a idéia de que Brasil que cresce é Brasil que se atrela às multinacionais. Estão aí Golbery do Couto e Silva, Roberto Campos. Em contrapartida, estão combatendo essas idéias, também a partir dos anos 60, um Caio Prado Junior, um Fernando Henrique Cardoso, um Fernando Novaes, um Francisco de Oliveira, um Celso Lafer.

FHC marcou sua octaetéride dizendo na Fiesp, no primeiro ano de mandato, que se esquecessem de tudo que escreveu. E retomou o que condenara num Roberto Campos.

E agora?

Voltamos a ser externos exportadores de matérias-primas, vivendo de favores dos chineses.

Lá fora, o pináculo do “rush” da economia global está na nova Guerra Fria.

Por aqui, como notou o ministro Roberto Mangabeira Unger, o modelo de Lula (ampliação de consumo, renda popular e exportação de commodities), virou um zero a esquerda.

Óbvio: Dilma tenta satanizar a Lava Jato como culpada por toda essa crise.

Bem: como notou o juiz Moro: quem aumentou em bilhões a roubalheira em Abreu de Lima não foi a Lava Jato: foi o governo (do PT).

Chegamos ao fundo do poço, sem achar petróleo e nada temos a oferecer: só o caos.

Temos o caos em nós, sob a estrela do PT: que bailava, mas, agora, dançou…

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