sábado, 1 de agosto de 2015
A criatura e seu labirinto
O criador é um ser cruel. Todos eles, depois do gesto, ato ou prática de criar começam nova e dialética relação com a criatura. Um sentimento duplo e dúbio de amor e de ódio.
A um só tempo, no mesmo átimo, reverbera primeiro o júbilo, seguido de um sentir contrário. É bom ter e haver criado, da mesma forma que é duro sentir o crescente poder da criatura.
Da física à política, criatura e criador não caberão, ao mesmo tempo e do mesmo tamanho, em igual espaço. À criatura caberia o protagonismo, a hegemonia. Ao criador o reconhecimento do bem feito e a sombra discreta no palco.
Entre os criadores políticos brasileiros Lula da Silva está na lista dos mais cruéis. Para chegar aonde chegou, vindo de onde veio, saltou e pisou muito mais obstáculos do que pescoços maternos.
Convenceu, iludiu, conquistou, enganou, seduziu, negou, ganhou muito e perdeu pouco. Distribuiu, retomou, dividiu, escolheu a melhor parte. Ficou forte e sentiu o bafo da eternidade. Acreditou no que quis e escondeu os espelhos. Poderoso, criou.
No delírio do gesto toda a criatura se parece ao desejo do criador. A Dilma criada era da Silva. Mas não era sequer a sombra dele. No mundo autoritário ela até poderia. No jogo democrático a conta sempre chega. A criatura perdeu.
O mexicano Octávio Paz ensina que o labirinto é uma solidão. O criador pode se esconder, não a criatura.
Na crise atual nenhum deles sabe a saída. Lula quer dissociar-se de Dilma, deixá-la. Só que a presidente o abandonou antes. Não obedece mais, nem ouve a voz do dono.
Nunca antes nesse país viu-se coisa igual. Criador e criatura ganharam quatro eleições seguidas e agora se arranham para ver quem é o mais culpado na crise, quem é mais responsável por jogar fora tanto capital político amealhado. Lula joga contra e conspira.
A aliança com a direita para governar é conta de Lula, a fatura da farra deve ser paga por Dilma. Mesmo presa em seu labirinto o poder é dela. Lula quer falar até com os fantasmas do seu passado. O criador está frágil.
A criatura em seu labirinto dispõe, ainda e pelo menos, de alguma força que vem do poder legítimo. De novas conversas e das apostas que todos fazem em um futuro melhor. De preferência com ela, para não alimentar e agravar a crise.
Lula deve perder. Salve-se o país.
Luiz Recena
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário