Rui Barbosa parece vivo no Brasil de hoje. As pessoas parecem sentir vergonha da honestidade e parecem endossar atitudes para que os poderes cresçam e apareçam nas mãos dos maus. Um paranaense, nascido em Maringá, que poderia começar a mudar essa situação no país a partir de Curitiba, o juiz federal Sérgio Moro, sem ter o devido aval da maioria das pessoas ou pelo menos das entidades representativas de seu estado, recebe pressões absurdas dos encastelados e dos ameaçados por seu trabalho, que não querem que ele consiga finalizá-lo a bom termo.
A Operação Lava Jato, conduzida por Moro, formado pela UEM, juiz federal desde 1996, com cursos na Universidade de Harvard (EUA), mestre e doutor em Direito pela UFPR, causa calafrios nos empreiteiros, diretores da Petrobras, políticos, banqueiros e agentes da propina e de outros crimes que sugam o país há anos, sempre cobertos e disfarçados por um sistema maléfico que surpreende, por sua dimensão, o noticiário mundial. Ele tem precedentes: especializou-se em crimes financeiros e no caso Banestado, um processo judicial desenvolvido entre 2003 e 2007, levou à condenação 97 pessoas.
Causa-me calafrios o silêncio de entidades paranaenses (em primeiro lugar) e brasileiras, que deveriam apoiar o trabalho de Moro para que ele o continuasse com a serenidade necessária. Mesmo porque, em sua postura contra o crime, sempre armando ratoeiras no caminho de desonestos, já foi alvo, inclusive, em processos anteriores, de procedimentos administrativos no Conselho Nacional de Justiça. Felizmente, o fim desses processos não corroborou o triste sintoma de sociedade apodrecida denunciado por Rui Barbosa. Mas as ameaças atuais contra Moro corroboram vergonhosamente a constatação de Barbosa.
Sérgio Moro está recebendo pressões de todo lado. Como, aliás, um outro juiz, Joaquim Barbosa, recebeu por não ter medo de desmascarar o crime nutrido em Brasília. O trabalho do juiz paranaense vem sendo questionado e desvalorizado, com obstáculos que vão desde pedidos de informações do presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, sobre denúncias contra o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha; pedidos de informações do presidente do STJ, ministro Francisco Falcão, a respeito da prisão preventiva de executivos de grandes empreiteiras; até editoriais irados da mídia conduzida por verbas do Palácio do Planalto. Estão todos de cabelo em pé. Empreiteiros, intermediários, funcionários da Petrobras, “laranjas” e políticos, principalmente Lula, Dilma, Cunha, José Dirceu, João Vaccari e os abrigados nos palácios e nos porões do poder, especialmente os de foro privilegiado ou seus cupinchas.
A artilharia contra Moro não tem sido pequena e aumentará. Tanto que Lewandowski, Dilma e seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se encontraram no exterior, sob outro pretexto, e lá conversaram talvez pelo mesmo motivo pelo qual Lula ameaçou procurar Fernando Henrique Cardoso para, como disseram seus áulicos, conversar sobre sustentabilidade democrática.
É preciso deixar claro que o que Moro está fazendo, em guerra contra o crime, não ameaça as instituições democráticas. É exatamente o contrário. O trabalho de combate sem tréguas à corrupção e aos corruptos fortalece essas instituições, deixa-as livres dessas quadrilhas que roubam impunemente. Esses quadrilheiros fazem a democracia sangrar no que ela tem de mais valioso: a credibilidade.
Resta-nos a crença de que a sociedade paranaense, por ver um filho seu em tão importante embate, lhe dê apoio e respaldo para que, como também preconizou Rui Barbosa, “a força do Direito supere o direito da força”.
Cláudio Slaviero
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