Enquanto a presidente Dilma Rousseff corta um dobrado nos Estados Unidos, tentando convencer o governo e os investidores a darem uma chance ao Brasil, Lula assume o governo paralelo em Brasília, convoca o marqueteiro João Santana, que está trabalhando na campanha presidencial da Argentina, e determina a ele que o próximo programa do PT na televisão se transforme numa reação do partido à Lava Jato.
Depois, se reuniu com a direção petista e com as bancadas no Congresso, para determinar como será o comportamento do PT daqui para frente.
É como se o governo e o partido subitamente passassem a ser varridos por um tsunami político, sob alegação de que não se pode mais suportar o massacre das investigações sobre corrupção.
Lula tem temperamento ditatorial, não ouve ninguém, seu apreço à democracia é uma peça de ficção. Desde a criação do PT, jamais permitiu que surgisse uma liderança que pudesse lhe fazer sombra, o partido é dele e estamos conversados.
Na reunião de ontem, exigiu que deputados e senadores sejam contundentes na defesa do governo e do partido, subindo à tribuna ou dando entrevistas contra as “arbitrariedades” do juiz Sérgio Moro, que tem mantido na cadeia empresários e representantes do PT, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, para forçá-los à delação premiada, na versão lulática.
Antes da reunião, já tinha mandado o PT convocar três ministros de Dilma – José Eduardo Cardozo, da Justiça, Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, e Rubens Barbosa, do Planejamento.
Lula pretende que o partido obrigue Cardozo a interferir na Polícia Federal, para que as investigações poupem o PT e levantem a corrupção dos partidos de oposição, especialmente o PSDB. Quer exigir de Rossetto uma grande pressão dos movimentos sociais a favor do governo e do PT. E pretende que Barbosa amacie o ajuste fiscal, para atende as centrais sindicais, como se fosse obra fácil.
Na sua ignorância sesquipedal, Lula desconhece que Cardozo não manda na Polícia Federal e também não sabe que desde o início as investigações não são feitas apenas pela PF, mas pela força-tarefa, que inclui a Procuradoria da República, regional Paraná. Além disso, até agora não entendeu que é a força-tarefa que pede as prisões, o juiz Sérgio Moro apenas despacha favoravelmente.
Lula também não percebe que Rossetto e Barbosa sonham em atender os movimentos sociais e as centrais sindicais, mas não têm encontrado receptividade, em função da crise política, econômica e moral do governo. De que adianta pedir o que eles já tentam fazer e não conseguem?
O pior é que, no PT e no governo, ninguém tem coragem de enfrentar Lula. Nem mesmo a presidente Dilma Rousseff, que logo atendeu a conclamação dele e comprou uma briga com a Justiça, ou afirmar ontem que não respeita delator. Tentar desmoralizar a Justiça não é papel de chefe de governo, especialmente numa crise tão delicada. Dilma se precipitou.
Por fim, não se sabe as reais consequências desta tresloucada estratégia made in Instituto Lula, mas pode-se dizer, sem medo de errar, que o primeiro resultado será destruir o frágil relacionamento que ainda existia entre o PT o governo.