Este é o tom da Administração Trump, cuja propaganda assenta fundamentalmente na ideia do homem-forte que exerce a autoridade sem piedade, a toda a velocidade, a partir de coisas pelo caminho. Ele é o xerife que entra no saloon para “endireitar” o lugar.
As tarifas são ideológicas? Sim, mas têm esta mensagem indexada: ou alinham ou sofrem. As universidades são woke? É o que veremos. Os prefeitos e os governadores democratas não apertam com os meliantes nas suas cidades e nos seus estados? Vamos lá pôr a tropa.
Isto mesmo garantiu Trump num evento que juntou, em Quantico, mais de 800 altas patentes do Exército norte-americano: “Disse ao Pete [Hegseth, secretário da Defesa] que devemos utilizar algumas destas cidades perigosas como campos de treino para os nossos militares e para a Guarda Nacional.”
Nesta mesma cerimônia, cheia de gente fardada, perfeitamente barbeada e alinhada, também foi dito isto: não há lugar para homens de barba ou com barriga, só os mais aptos fisicamente podem continuar (e os testes físicos vão subir de nível), e se as mulheres não aguentarem a exigência, azar o delas. Uma posição curiosa, visto que o caminho das próximas guerras parece ser o dos conflitos híbridos, dos drones, robôs e inteligência artificial, que reduzirão previsivelmente o número de botas no terreno.
Na prática, o que Hegseth — um ex-Marine que gosta de exibir as suas proezas atléticas, de praticar exercício ao lado de soldados e ocasionalmente revelar confidencialidades no Signal — organizou foi um encontro para-religioso de adoração ao poderoso líder dos EUA.
Um momento bizarro, mas também preocupante, que lembra episódios antigos em que uma estrutura militar foi subjugada à vontade de um líder ressentido e pouco recomendável. Pior: este não é um acto isolado, sucede à robusta parada de Junho, em Washington, que deixou o mundo espantado com o espetáculo militarista.
Visto de fora, parece o início de um enredo de um filme catastrofista, em que homens maniqueístas de cabelo à escovinha assumem o controle de uma sociedade democrática. A caricatura e a sátira do último filme de Paul Thomas Anderson aplicadas à realidade: os macho men.

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