Com os novos AI Overviews, o Google passou a exibir resumos completos de notícias e análises diretamente na página de resultados, sem que o leitor precise clicar nos links originais. Segundo o relatório Enders Analysis (2025), editoras britânicas registraram queda de até 80% no tráfego desde 2019, enquanto veículos norte-americanos relatam reduções superiores a 50%.
As causas combinam mudanças de algoritmo, colapso das estratégias de SEO e alterações no comportamento do público, que agora espera respostas instantâneas e com jovens leitores migrando para plataformas como TikTok e Reddit, onde o consumo é mediado por algoritmos e comunidades segmentadas.
Na América Latina, o cenário é ainda mais preocupante. Redações independentes e comunitárias, especialmente aquelas lideradas por jornalistas negros, indígenas e periféricos, não têm infraestrutura para competir por visibilidade nos ecossistemas de IA nem garantias de que seus conteúdos serão citados ou remunerados. No Brasil, em um país historicamente marcado por desigualdades raciais e territoriais, o “Google Zero” amplifica um problema antigo: a exclusão de vozes diversas da esfera pública.
Isso resulta em um duplo apagamento informacional: exclusão dos resultados de busca e apropriação de narrativas locais por sistemas automatizados sem reconhecimento de autoria. Sem políticas públicas, regulação de dados jornalísticos e incentivo à inovação, o Brasil corre o risco de aprofundar a dependência de intermediários que decidem, a partir de seus próprios interesses, quem merece ser ouvido.
É fundamental compreender que não existem vilões ou heróis absolutos nesse processo. O Google e o ChatGPT representam faces diferentes do mesmo desafio: a intermediação automatizada da informação. Em ambos os casos, a inteligência artificial não é a causa da crise do jornalismo, mas um espelho que torna suas fragilidades mais visíveis.
O verdadeiro problema está na concentração de poder e de recursos em poucas plataformas que determinam o que circula e o que desaparece. Encarar a IA como inimiga apenas desloca o foco: o desafio real é garantir que essas tecnologias sirvam ao interesse público, respeitem a autoria e ampliem a diversidade de vozes no espaço informacional.
O jornalismo que sobreviverá será aquele que reconstrói vínculos de confiança com as comunidades e reafirma o valor humano em um ecossistema automatizado. Como alerta o relatório The Age of AI in the Newsroom (2025), o futuro da informação dependerá da capacidade de produzir conteúdo original, relevante e socialmente enraizado.

Nenhum comentário:
Postar um comentário