quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O covarde contra o corajoso

Isto não é guerra. Isto é genocídio. Gaza se tornou um campo de concentração, e a mensagem de Israel é clara: saia ou morra.

Eu vi isso pela primeira vez quando era menino, num pátio de escola, em 1965: o covarde que se fortaleceu em grupo e escolheu sua vítima. Sessenta anos depois, vejo o mesmo padrão — desta vez nos líderes de Israel e no presidente dos Estados Unidos.

Esta noite estou cansado. Como sempre, termino o dia lendo as notícias: Haaretz, DN, Expressen, Dagens, etc. As histórias são as mesmas — genocídio em Gaza, imagens de sofrimento e morte. Sinto desespero, sinto desesperança. Mas esta noite, também sinto raiva.

Quando fecho o computador, uma velha lembrança me vem à mente. Tenho doze anos e estou no pátio da escola. Um garoto mais velho que eu — tímido quando sozinho, mas encorajado por outros quatro — escolhe seu alvo. A surra só para quando um professor intervém. Sua força não vinha da coragem, mas do medo, e do prazer de ver sua vítima desabar.


Essa mesma dinâmica se repete agora. Netanyahu não é um líder forte. Ele é inseguro, ávido por controle, carente de empatia e dependente de outros para se manterem firmes. Um covarde com poder demais. E, como o menino no pátio da minha escola, ele se cerca de outros iguais a ele — homens dispostos a apoiar a limpeza étnica e o genocídio.

O covarde teme a verdade. É por isso que jornalistas internacionais são impedidos de entrar em Gaza, repórteres locais são silenciados e até mesmo alvejados. Recentemente, o exército israelense bombardeou uma tenda de imprensa. Não foi um erro. A ordem veio de cima. Seis jornalistas foram mortos naquele dia, seis que deram suas vidas para que pudéssemos saber o que está acontecendo. Eles se juntam aos mais de 200 jornalistas já assassinados.

O retorno de Trump só tornou Netanyahu mais ousado. Com ele vieram armas, cobertura política e um parceiro que o espelha: a mesma falta de empatia, a mesma covardia disfarçada de força. Juntos, eles lançaram um dos exércitos mais avançados do mundo contra um povo que não tem nada com que se defender.

E, no entanto, Gaza não se rende. Dois milhões de pessoas, presas atrás de muros e cercas, recusam-se a desaparecer. Perderam casas, água, escolas e hospitais. Mas se apegam a algo que falta aos seus opressores: dignidade.

É tentador chamar isso de guerra. A linguagem de soldados e armas, baixas e ruínas, sugere guerra. Mas isso não é guerra. Isso é genocídio. Gaza se tornou um campo de concentração, e a mensagem de Israel é clara: saia ou morra.

É sempre o covarde contra o corajoso. E sabemos quem são os covardes.

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