Ou você tem se deixado levar por promessas ilusórias de sucesso rápido, atraído por fórmulas mágicas e discursos vazios? Cursos que garantem resultados imediatos, gurus com segredos infalíveis, médicos que prometem curas milagrosas ou métodos que asseguram riqueza sem esforço são apenas armadilhas que desviam do verdadeiro crescimento.
O verdadeiro crescimento vem da experiência e do compromisso genuíno com a prática. Como Darwin nos ensina, a adaptação contínua é essencial: não há atalhos!
A neurociência e a epigenética, ciência que estuda os mecanismos que atuam para além da genética, mostram que nossas memórias e conhecimentos se consolidam por meio de experiências sensoriais e emocionais, criando referências que sustentam nossa identidade, resiliência e dão sentido à vida.
Vivemos em uma sociedade que valoriza a rapidez e a eficiência, mas que frequentemente nos empurra para atalhos ilusórios. No entanto, é no tempo investido, nas relações nutridas e no aprendizado contínuo que encontramos o verdadeiro significado. Fugir dos atalhos não é perder tempo, é ganhar vida e reproduzir experiências evolutivas.
Porém, é na ausência que valorizamos o que perdemos. E é na falta que fazemos aos outros que somos verdadeiramente reconhecidos. A saudade e as memórias são lembretes do que realmente importa e fazem parte do arquivo pessoal da nossa vida.
Quando lidamos com perdas, sejam elas de pessoas, oportunidades ou empregos, são essas memórias e aprendizados que nos permitem seguir adiante sem nos ferir ou nos autodestruir. Compreender esse processo nos ajuda a viver de forma mais consciente, valorizando o presente e cultivando experiências significativas.
Sócrates, o filósofo grego, usava a maiêutica: um método de perguntas que leva à reflexão e ao autoconhecimento, base de muitas práticas de liderança e desenvolvimento pessoal até hoje. Essa abordagem ainda inspira práticas fundamentais em áreas como a medicina, que exige escuta ativa para diagnósticos precisos; na psicoterapia, onde o diálogo facilita a ressignificação de vivências; e também em contextos como a magistratura e a parentalidade, seja com nossos filhos ou com nossos colaboradores. No julgamento que condenou Sócrates à morte por ingestão de cicuta, manteve-se fiel à sua integridade e coerência até o fim, um gesto que ecoa como exemplo de coragem ética e fidelidade à própria verdade. Naquela época, esse ato extremo consolidou sua imagem como herói e mito. No entanto, nos dias de hoje, meu conselho é que não levemos nossos princípios ao ponto da autodestruição, seja por omissão ou passividade. Expressar o que pensamos, com coragem e respeito, evita ressentimentos e abre espaço para a transformação de ambientes e relações. Nossa voz e experiência têm poder de cura e mudança, especialmente quando aprendemos com quem mais nos ensina pela simplicidade como nossos filhos, nossos melhores mestres.
No mundo de hoje, manter-se fiel à própria verdade é um ato de resistência e superação. Nelson Mandela, com sua trajetória de 27 anos de prisão, exemplifica resiliência e fidelidade aos princípios. Ele dizia: “A maior glória de viver não está em nunca cair, mas em levantar-se sempre que cair.”
A desistência pode parecer uma solução rápida, mas muitas vezes leva a um sofrimento silencioso, um luto prolongado e um ciclo de arrependimento que pode resultar em depressão e melancolia crônica. E é essencial reconhecer estes desafios emocionais e buscar apoio para não entrar nesta condição ou sairmos tão rápido quanto possível.
Como resistir? Manter-se fiel a si mesmo é o que fortalece. Autoconhecimento, autocontrole e responsabilidade são essenciais para enfrentar adversidades. Esses valores conectam tempo e memória, experiência e equilíbrio, lealdade e desafios.
Sócrates incorporava esses valores ao seguir os Preceitos Délficos, ensinamentos dos Sete Sábios da Grécia inscritos no Templo de Apolo, em Delfos. Seus princípios, que guiavam sua conduta e busca pela verdade, continuam essenciais para uma vida equilibrada e para as tomadas de decisão. Esses valores se conectam diretamente aos três preceitos mais conhecidos:
1. Conhece-te a ti mesmo (Gnothi seauton): o tempo e a memória são fundamentais para o autoconhecimento. Antes de buscar respostas externas, resgate as lições do passado e valorize a sabedoria presente em sua trajetória e na experiência daqueles que vieram antes.
Dica prática: reserve um tempo para refletir sobre sua trajetória. Revise suas memórias e aprendizados, identifique erros e acertos. Converse com mentores e familiares para ampliar sua visão e evitar a estagnação.
2. Nada em excesso (Meden agan): no mundo acelerado de hoje, equilíbrio é essencial. Viver o presente com consciência evita desperdício de tempo e energia. O aprendizado contínuo mantém a mente ativa, previne a estagnação e evoluímos absorvendo novas experiências e conhecimentos.
Dica prática: evolua constantemente: faça cursos, desenvolva competências estratégicas, amplie sua visão de mundo e atualize-se com as demandas da sua área de atuação. Expandir seu repertório fortalece sua adaptação e resiliência. Evite sua zona de conforto: questione, aprimore-se e desafie seus limites, mesmo com intolerantes, uma chance de também eles evoluírem.
3. Não faças promessas que não possas cumprir (Epangellou medeni): a integridade fortalece relações e constrói confiança. Em tempos de superficialidade e impulsividade, honrar compromissos e reconhecer limites é essencial. A vida é um processo contínuo, e buscar atalhos pode comprometer seu crescimento e credibilidade. Dica prática: seja leal e responsável com suas promessas. Antes de se comprometer, avalie, planeje e comunique-se com clareza. Falhas podem prejudicar relações, comprometer sua reputação e fechar oportunidades. Assuma falhas, elas nos humanizam e, acredite, provocam cura coletiva.
Além desses três, há muitos outros preceitos, como: “Evite a injustiça”, “Respeite todas as pessoas”, “Aprenda com a adversidade” e “Aja com prudência”. Enfim, eles fortalecem a ética, a responsabilidade e o aprendizado contínuo, fundamentais para uma vida equilibrada e significativa e podem ser uma boa escola de valores para gestores de primeira viagem. Também nos lembram que investir tempo, cultivar relações e aprofundar o conhecimento são escolhas essenciais. Talento não se constrói com atalhos!
Em tempos de pressa e descartabilidade, a sensação de obsolescência, a ideia de que tudo deve ser constantemente renovado; e o conceito de mundo líquido, segundo Zygmunt Bauman, podem nos afastar de nossas raízes e referências. No entanto, a vivência e o conhecimento dos mais velhos são um presente valioso, oferecendo ensinamentos que transcendem modismos e impulsionam nosso crescimento. Por que esperar perder para valorizar? Aproveite o tempo com quem sabe e, principalmente, é experiente! Nesse sentido, são oráculos vivos em nossas vidas e também em nossas memórias, facilitadores do nosso sucesso.
Além disso, a tecnologia e a modernidade ampliam o acesso ao conhecimento, conectando gerações e potencializando a troca entre experiência e inovação. Elas permitem que o conhecimento dos mais velhos seja preservado e compartilhado, como na mentoria. E o melhor: evitam erros e prejuízos. A tecnologia também pode ser uma aliada na preservação do que há de mais precioso hoje: nosso tempo e atenção. Com mais tempo, podemos fortalecer nossas conexões e criar novas memórias e experiências. Assim, o progresso se torna mais acessível e inclusivo, sem atalhos.
Dica sensível neste momento: aproveite os benefícios da inteligência artificial com consciência crítica e empatia. Ela oferece apoio e agilidade em muitas tarefas, mas ainda carrega limitações, como vieses éticos e cognitivos herdados de seus desenvolvedores humanos. Use-a como ferramenta, sem perder de vista a importância do olhar humano, da escuta genuína e da sabedoria que nasce da experiência vivida e das relações significativas. A inteligência artificial não é humana, nem substitui o papel de um psicoterapeuta ou mentor. Ela pode apoiar, mas não sente, não intui e não compreende contextos com a mesma profundidade emocional de um ser humano. Cuidar dessa distinção é preservar a ética, a empatia e o próprio valor do encontro humano.
Ouça. Aprenda. Valorize. Aproveite o tempo com quem importa, com quem tem experiência real e algo a compartilhar, não apenas promessas ou cobranças. A sabedoria não nasce de fórmulas prontas: ela floresce no encontro, na escuta e na vivência autêntica. E você, tem dedicado seu tempo a quem realmente importa?
Rubens Harb Bollos

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