Lembro-me do terror que acompanhou o aparecimento da televisão, das casetes de áudio e vídeo, do computador pessoal, da Internet, e dos computadores de bolso a que chamamos “telemóveis”.
Agora é a inteligência artificial (IA). É diferente? Sim, diz-se sempre que é diferente. Mas a história é sempre a mesma: o roubo da nossa alma, acompanhado pelo desaparecimento de uma coisa que nos faz bem à alma.
A fotografia roubava-nos a alma, estampando com ela num papel. Fazia desaparecer os retratos feitos pelos pintores. A televisão roubava-nos a alma, enchendo-nos de lixo e fixando-nos em casa. Fazia desaparecer o teatro, a rádio e o cinema.
Confundimos sempre os nossos medos com as nossas percepções. Continuamos nas cavernas, a dar os primeiros passos para nos transformarmos em camponeses.
Cada coisa nova que aparece parece que nos vem comer.
A IA parece que vai comer trabalhadores, mas a única coisa que vai comer é trabalhos que ninguém gosta de fazer. Vai ser como a invenção da roda ou da máquina de lavar roupa: o ser humano passa a poder fazer um trabalho de que goste mais.
A IA é um retrato, uma imitação do cérebro humano. Assim como o retrato só dá mais valor à pessoa que foi retratada – mexe-se e fala e dança e faz amor –, a IA só chama a atenção para a maravilha que é o cérebro humano.
Veja-se tudo o que a Disney faz para imitar o movimento dos animais – e depois olhe-se para um gatinho a brincar com uma tampa de esferográfica. Não é espantoso o que um gatinho consegue fazer com uma simples tampa de esferográfica?
Ontem deliciei-me a ver em 3 minutos faz-te-foruardados, um filme chamado Bad CGI Gator em que se exagera a rasquice dos efeitos especiais para salientar o ridículo de um jacaré obviamente fictício.
É o que se está a fazer com a IA, esquecendo o que o artificial faz ao que é natural: endeusa-o.
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